segunda-feira, 16 de agosto de 2010

"Ninho"

Não sei se nos cruzamos há muito ou pouco tempo, por vezes penso que já nasci em ti, ou questiono-me se vim de dentro de ti. Figuras de sempre embrulhadas em nós, sequiosas de recuperar a pureza do passado, para alcançar o alento de um futuro mais tranquilo.
As tuas gargalhadas sonoras, transportam-me para o brilho de uma infância de mão entrelaçada nesse calor, nesse olhar tranquilo com que brincava ao esconde-esconde, em que me habituei a uma importante lição, perder!

Levas-me assim devagar, entre arrufos e amuos, na busca desse jogo de paciência, onde me faço e construo, na distância de mim, onde me habituo, a não continuar desgraçadamente a fugir de mim. A enfrentar esses fantasmas, uns duros e outros tão genuinamente doces.

Sei que procuras entender-me nesse labirinto onde me viciei em circular, mesmo naquilo em que não alcanço eu própria entender. Acima de tudo sinto a fortaleza daquilo que és capaz de me amar, mesmo quando eu me fecho no meu desespero surdo e mudo, enrolada nessa melancolia que por vezes toca o trágico. Assim me desfiz nos atalhos onde me perdi, mas também sabes que tenho esses tantos outros momentos, em te faço tocar o céu, onde te transporto para esse mundo mágico, onde impera verde-mar.

Nesse jardim banhado pelo mar, onde se respira esse ar doce de puro, nessa maresia emprenhada nos nossos corpos, sei que te dou mimo, essa palavra tão esquecida, ora não fosse o ser humano de hoje, tão forte que não carece de colo. Talvez a tua maior virtude foi aceitar essa criança frágil que não fui capaz de te esconder, que gracejava na ânsia de um colo, um abraço, um minuto de atenção para puder mostrar as suas habilidades.

Vidas apressadas onde não há lugar a esse “ninho” que fomos capazes de criar longe dessa azáfama da correria onde tantas vezes nos acabamos por perder. A certeza que te levo para qualquer lado para onde vá, guarda-a contigo para sempre.

Assim nos vamos conhecendo e descobrindo….

Maria Sá Carneiro

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