quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Não amanha!




Hoje sonhei que era livre e mulher, ou será que sonhei que ainda era a tua menina de caracóis. Nem sei bem o que sonhei, foi assim uma noite que deambulei ente o não amanha e o ontem.

Assim numa inquietação, uma réstia de passado doce, não o suficiente para dormir um sono reparador.

Falta-me essa força impulsionadora de vida, essa luz que me oriente e me leve ao meu caminho.

Faltas-me tu Mãe, faltas-me tu Pai! Falta esse porto seguro onde possa descansar e voltar acreditar. Essa época complicada apenas por tantos modelos pré-fabricados e instalados. Assim parecemos robots dessa pseudo sociedade histérica, que nem no último sopro, ousa tentar nem que seja uma leve mas corajosa medida.

Sim sigo a mesma vida atribulada e só, assim desgarrada de vontade de vencer, fui-me apagando, murchando…

Essa época de luzes às cores confunde-me, enerva-me, irrita-me ficar assim a levitar, a meditar nessas razões obscuras, nessas movimentações lamacentas da suposta instituição, que dá pelo nome de família directa. Altura de fechar contas, balanços, atitudes com carácter definitivo, decisões inabaláveis que existem apenas para nos sentirmos mais gente.

Será assim tão difícil ser gente?

Adormeci nesse sofá de sempre. Havia pouca luz, a lareira crepitava calor de gente. Deitada no teu colo, lutei para não adormecer, queria ver o teu ar concentrado a ler esses volumes grossos. Mas embalada nesse mundo seguro e terno, fui assim deixando-me ir….

Essas datas que faz anos que partiste, não consigo deixar de ficar agarrada a essa melancolia…essa dor de solidão de quem perdeu esse lugar, essa referência, esse mundo em que havia sempre mais uma etapa, mais uma chance, mais uma oportunidade.

Um dia destes….


Maria Sá Carneiro

domingo, 11 de dezembro de 2011

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Choro

Choro sem entender essa saudade que se em mim se instalou, Corre por mim dentro um arrepio, uma lamúria, uma angústia. Assim nessa ilha de solidão, desespero por uma mão amiga, um ombro. Algum sussurro de conforto, uma esperança, uma luz.

Dias e dias que se arrastam por mim, nada muda, nada melhora, nada já espero, senão já com alguma tranquilidade a hora da partida. Hesito e balanço se a force a chegar, ou se continue aqui nesta ilha de nada e de ninguém, à espera.

Penso algumas vezes que vais abrir aquela porta, com esses olhos marotos e brilhantes, chegando assim como nunca me tivesses abandonado, perguntado como dantes, o que eu queria jantar.

Não tenho saudades desses tempos brilhantes, repletos de companhias, a maioria das quais nunca cheguei sequer a gostar, tenho saudades de ter paz, amor e compreensão.

Nunca se quer me passou pela cabeça, chegar assim a esta idade sem ter essa segurança, paz e o teu amor. Hesito, balanço, caio, desentendo-me de mim, desintegro-me.

Choro por ti, pela saudade desse cheiro doce e colo seguro. Anseio por essa lareira que tanto nos uniu, esse abraço fechado.

Tentei ir lutando, rindo e tocando a vida para a frente, mas a vida foi-se esbatendo em mim, a alegria foi partindo de mim, as companhias desapareceram com ela.

Choro aqui no nosso lugar de sempre, por ti, por nós, e espero a minha hora.

Maria

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Estranha forma de vida

Escrevo-te hoje assim como se fosse a última vez, nesse último suspiro, nesse último esforço de me abeirar de ti. Os anos foram passando, a tua imagem esbateu-se na minha memória, essa estranha forma de vida moderna, em que nos afogamos em tudo e em nada.

Busco nas minhas recordações de outrora essas nossas arrelias tão longínquas e tão alegres. Travessuras de criança irrequieta assaltavam essa tranquilidade desse relvado verde, com rosas de Santa Teresinha por todo lado.

Eu nesse baloiço de sempre, arranhada, suja de terra, na esperança que reparasses em mim, à espera de um ralhete, um olhar, uma crítica ou apenas um sorriso.

Modelos entranhados nas nossas memórias, bandeiras hasteadas que no fundo não são nem nunca serão as nossas, gritos de independência pela dor da dependência, desse porto seguro. Soutiens em riste, lábio mordido, coração amarfanhado, “mais vale só que mal acompanhado”.

Navego nesse labirinto da vida em que embarquei sem consciência, procuro por ti, por ele, e por outros que tomei como meus erroneamente.

Promessas e ilusões das quais só eu sou responsável, por não me saber aceitar, refazer ou reinventar.

Essa dor que por vezes já não suporto, não tem melhoras, por falta de esperança, como se a vida dependesse dum hipotético final apoteótico de um concurso de “vacas cornélias”.

Nesse nó cego de mim prossigo nessa fuga ridícula para sítio algum, deito-me no silêncio da noite, imaginando que também vou partir, e reencontrar-te num abraço fechado, demorado, e acima de tudo verdadeiro!

Outras vezes tento reparar naquilo em que me tornei, se haveria algum ponto, por mais minúsculo que fosse, que conseguiria arrancar-te uma palavra breve de reconhecimento, um rasgo de alegria, ou mais uma vez apenas um sorriso.

Estranha forma de vida, ou apenas viramos estranhos de nós próprios, nessa ponte sem união possível entre a nossa infância e esse mundo de hoje.

Saudades! Sempre!


Maria Sá Carneiro

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Era uma vez....


Mais um dia que se arrastou lento e tortuoso. Às vezes pergunto-me, onde andas e o que esperas para me vir buscar? Bolas será que nesse sítio onde estás não há televisão? Não vês as novelas, onde essa figura mítica de preto vai buscar as pessoas?

Sempre te imaginei que apesar de teres partido nunca te irias esquecer de mim, que viria ao de cima, essa recordação da menina triste que sempre fui.

Vivi assim prosseguindo de forma valente, de asneira em asneira é certo, mas lutando, isso tens que reconhecer. Que trabalho e que me esforço. Bem sabes que nunca me quiseram, apesar de nunca teres tido a coragem de mo dizer, assim olhos nos olhos.

Entendo que é difícil aos nossos falar a verdade que os pode fazer esborrachar-se contra a parede, mas não será melhor a verdade, do que esse murmúrio incessante do passado presente com condenação certa do futuro?

Essa ladainha perdida entre ecos cinzentos pintalgados de incertezas que apenas nos empurram cada vez mais para o abismo?

Sim tens razão, sou uma mescla perdida entre invejas mesquinhas, de quem apenas aspira a verde-mar, mas que nada faz por isso.

Era fim de tarde, o sol descia assim todo ele laranja, de mão dada e entrelaçada, passeávamos junto à foz do rio, esse sítio mágico onde eu tinha a ilusão que o tempo iria parar, tu despirias esse pele de forte, para me contares essa história que eu ansiava ouvir. Que finalmente te calarias com essas conversas sisudas onde eu de um momento para o outro teria que entender que a ordem dos valores se tinha encavalitado e que afinal o sol nascia à noite e a lua, se tinha perdido na viagem de regresso.

Maria era uma vez…………..


Maria Sá Carneiro

domingo, 18 de setembro de 2011

Parabéns Lu:))

Sentada na nossa cama de outrora antevejo uma noite de luar esplendorosa por entre as cortinas novas, cansada fisicamente, suspiro em jeito de balanço, mais um ano que passou.

Anos foram assim correndo, recordo essa noite de aniversário, onde me deliciaste com um suspiro de vela branca encavalitada, numa noite assim de luar.

Creio que já passei pelo sono, pelas brasas, ou por esse cheiro doce de nós que em mim se instalou para sempre.

Curiosa essa passagem dos anos, uma mescla de melancolia, uma réstia de felicidade, ou um pouco de tudo isso.

Sinto falta é verdade, mas já não é de ti, mas sim daquilo que nos imaginei. O tempo foi passando, neste corre-corre, onde ninguém tem realmente para quem precisa, onde o que conta é a aparência, o dinheiro, jantares e mais que tais.

Passei tempos complicados de passar, reconheço que me arrastei uns tempos, cambaleei!

Mas aqui estou e sigo sonhando.

A lua contou-me os teus segredos, estava linda, branca, pura, transparente. Não te zangues com ela, ela não me resistiu!
Sentiu-se insegura, com a tua promessa de me dar um gomo, ameaçada em perder uma parte, em perder o seu brilho e o seu esplendor.
Sei que te confessas a ela, os teus medos, os teus desejos, entendo-te, ela é linda, calma, segura, pura e misteriosa.
Um brilho para a alma, um descanso para o olhar, e um trapézio para o sonho.
Pensando na tua ligação, sentei-me no jardim, sem coragem para pegar numa folha de papel e num lápis, com o portátil no colo, entrelacei-me em ti, de mão dada com ela.
Dei por mim a sorrir imaginando os teus sonhos, pedidos, as tuas confissões, já a pensar ao mesmo tempo gamar-lhe um gomo!
O jogo da sedução e o mistério têm um encanto que nos transcende, que nos faz mergulhar nessa lua branca, redonda e brilhante.
A esperança e o encontro em nós através do amor, a procura de um porto seguro, um colo querido.
Sei que te procuras como eu, precisas de encontrar o pedaço da alma que perdeste, nessa vida que por vezes tem espinhos, e nos esgaça a alma.
Por isso e por muito mais sei que muitas vezes olhas o céu e procuras a lua, pedaços de lua para pedaços de alma!

São quatro da manha, saio mais uma vez de uma noite de fazer aquilo que realmente me dá prazer, alegria, adrenalina, e mesmo felicidade. Correu-me bem. Vou assim a caminho de casa, metida com os meus botões como sempre. Mais um ano, mais uma noite e essa mesma viagem de regresso a casa, onde vivo esse turbilhão de emoções agridoce, coisas boas, os amigos de sempre, os seus sorrisos e olhares que me encorajam, a soltar-me, a cantar, com toda a minha força.

Vejo passar à minha frente tantos títulos de canções que eles gostam, Little Wing, Geórgia, Sometimes…Tantos…

Muitos parabéns Lu!

Assim mesmo sem nexo, mas com muita amizade:)))

Beijo grande Grande Amiga

Maria

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Sem nexo!

Procuro apenas um golpe de génio que me ilumine e me traga de volta à vida. Rastejo entre os buracos de mim. Não sobra nada, nem luz, nem força, nem coragem. Encurralada entre o belo prazer daqueles que sempre me invejaram, rastejo assim, esperando que voltes, me regastes desta agonia lenta. Tenho medo da noite, receio o dia, pois já nem posição tenho. Perdi a postura, a coragem de andar sem ver se vem alguém atrás de mim. Receio não ser capaz de seguir em frente.

Queria acreditar que tudo se compõe, que tudo se resolve. Vivo apavorada e fustigada de sorriso amarelo, com medo que os dentes me caiam. Não envergo direito, os meus óculos estão riscados. E não sei de ti. Como estás? Onde estás? E porque partiste?

Houve um tempo em que eu ainda era capaz de sonhar, sonhar com vida, com sol e alegria. Mal pousava a minha cabeça desregulada no teu travesseiro de sempre, embarcava nessa viagem onde o amor reinava.

ERA eu assim uma menina de caracóis loiros, sorriso aberto e esperança de todos os dias chegar a hora do teu colo. Essas figuras basilares de infância entre as quais eu balançava ao sabor de uma aragem doce, entre o teu ar de durão, e aqueles olhos verdes, fulminantes de fúria de viver.

Lentamente até as recordações menos boas se vão dissipando, com o peso dos anos, e esse desespero de hoje. Essa mancha amarela que se me grudou, para não mais sair, essa sim está a levar-me e a transportar-me de vez, para esse beco húmido e frio. Onde essa sombra mescla de inveja e maldade clama por mim, Irónica vai sorrindo e acenando, empurrando-me para o abismo.

Já não busco esperança, já não quero melhorias, só peço que tudo se silencie, para que eu possa adormecer, nessa paz que entendo merecer. Não sei se a mereço por te amar tanto, se pelo bem que tentei fazer, ou apenas por ser incapaz de tolerar mais dor.

ERA eu assim menina, abraçada e entrelaçada em ti, nessas manhas solarengas, eu sentia-me a pessoa mais importante do mundo, a caminho do colégio, na tua mota, descíamos a avenida com o mar no fundo, como eu me agarrava a ti.

Essa sensação de segurança, esse colo meigo. Não cresci? Se calhar parte de mim, ficou amarrada a esse passado longínquo, que por vezes até parece um conto de fadas.

Sim sei que não foi um conto de fadas, mas crescemos por comparação! Eu cresci procurando o inverso de ti, por não sentir que me amavas na mesma medida.

Disparates, linhas desconexas, em tempos onde a verdade nos foge entre os dedos, em que nada é palavra dada e sentida.

Era eu uma menina de olhos verdes que se iluminavam à tua passagem!


Está mal redigido? Estou-me nas tintas, finalmente!


Maria Sá Carneiro

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

quarta-feira, 6 de julho de 2011

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Pedra branca!


Prometi-te um texto….

Mas ando assim como com falta de inspiração ou de força…mas a tua amizade é rainhaJ

Pedra branca

Uns dias merecidos de descanso desse dia a dia, que tanto tem de rotineiro como por vezes de brutal. Aqui na praia de sempre descanso ao sol, com a minha gente de sempre e para sempre. Sorrio ao olhar-te menina de oiro e de luz. Atenta e alegre percorres praia fora, aos saltos maravilhada com todas as descobertas que vais conseguindo arrastar a família. Irrequieta com pilhas super duracell ninguém te consegue sequer fazer abrandar. Não sei porque hoje aqui e agora falo para ti, de mim.

Recordo esse teu sentimento deveras devastador, a excitação por viver, por descobrir, correr, entrar no mar, sentir essa força, que só podemos sentir no mar, ou nos braços de alguém. No fundo essa crença que todos nos vão amar como a nossa família, (a boa), para sempre e incondicionalmente.

Adormeces como que finalmente exausta de ti própria nessa sombra colorida do outrora “pão de açúcar”. Como pareces um anjo iluminado por essa sombra de arco-íris colorida. Levanto-me devagar e sento-me a sentir essa brisa fresca que vem do mar. Adorava entender porque esses eternos balanços, em época de férias.

Estranho esse momento de silêncio, como o mundo de repente tivesse parado, para mim. Ao longe avisto uma sombra de homem, de calção colorido. Como ainda te trago cá dentro!

Por muito que te tente fugir, a verdade é que te carrego cá dentro, uns dias ao lusco-fusco, outros como uma presença que me atormenta. Tão real essa imagem do homem na praia, que o meu coração dispara, assim tonto como sempre por ti.

Talvez essa partida mal explicada, esse adeus que era um até já!

O tempo foi correndo, organizando-se, coisas melhores, coisas piores, uma ruga aqui e acolá, mas ainda sei que sou uma presença que interessa a este ou aquele. Queria ser assim dessas, dispostas a tomar um eléctrico qualquer, sem sequer pensar no próximo apeadeiro. Mas não penses que é para não te trair, não! Não consigo é trair o meu eu, a minha maneira de amar. Sei que trocaste de camisa aqui e ali, sim sei que desta vez o embrulho onde te enfiaste parece ter um ar mais formal e definitivo. Como fosses pessoa de um só embrulho. Sei que desde nós navegas de porto em porto, bicada aqui, piscar acolá. Enfim, tudo o que planeamos para sempre acaba por ser o que trais a cada passo.

Essa tua respiração de criança transporta-me à infância onde fui feliz. De volta a esse guarda-sol dou graças por ter a minha família, por te ter a ti menina de oiro, que dormes sossegada e feliz. Agarrada a essa pedra branca que apanhamos à beira-mar, como ela fosse preciosa.

Sim e é!

Também eu já a tive na minha na minha mão:)

Maria Sá Carneiro

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Nostalgia!

O tempo passa e repassa, arrasta-se e arrasta-me. Eu vou-me movendo assim como um robot, uma ancora já sem cabo, apenas presa no lodo de todos. Queria ser uma gota de água, esse desejo antigo, sobre o qual escrevi umas linhas, que tu generosamente guardaste toda a vida na tua pasta. Parece impossível suprir essa ausência de ti, nada me corre nem ocorre. Já nem sei se te quero matar em mim, ou matar-me de mim. Toda eu sou um mar de imensa solidão e dor. Nem tenho força para procurar uma solução milagrosa, uma réstia de esperança. Queria apenas e apenas ver-te mais uma vez, sentir esse tua força, que ainda hoje tantos anos depois me faz correr estas irritantes lágrimas sobre este teclado merdoso dos chineses. Cansada e massacrada de acreditar nessa ajuda que nunca chega e que nunca me treinaste em saber pedir. Queria voltar àquele bibe azul amoroso, ao teu colo apenas mais uma vez. Anos e anos passaram desde a tua partida, queria saber conformar-me, resignar-me, ao facto tão bem pronunciado em tantas línguas, That’s life!

Não alcanço esse estado em mim, não atino sair dessa rua sem saída, dessa nostalgia. Não posso negar essa recusa em mim emprenhada de não querer apreender a viver sem ti, sei que não voltas…Mas não consigo!

Ainda vivi uns anos de alguma esperança, assim como um estado eufórico de nada x nada, apenas na ridícula tentativa de negar a tua ausência. Assim cheguei até aqui e não até a ti.

Já nem me incomoda absolutamente nada que pensem que sou desequilibrada, tola ou mimada. Apenas sou mimada pelo desejo que sempre tive em te agradar, pelo que sonhei em ser, para merecer um sorriso teu.

Nessa vida corrida somos muitos e apenas mais um, esperar o quê e de quem, apenas que o tempo passe rápido.

Nostalgia de ti e da tua força sempre, nostalgia de sentir que mesmo no fim do mundo, tu estavas lá para mim. Apenas conto agora comigo e com as minhas dores de ti.

Comecei a acreditar que de facto sou doente de mim, por não conseguir alcançar que de ti nada ter posso ter.

Sim não sei o que digo, e nem sei o que pensar, talvez um dos erros foi ter acreditado que era inteligente, essa certeza que em mim entranhaste, na esperança que eu nela conseguisse navegar.

Who cares?


Maria


segunda-feira, 30 de maio de 2011

"Passadeira Vermelha"

Sentada nesta praia de sonho recordo-me do teu sorriso. Parecia transmitir tanto amor que julguei ter-te para sempre. Entraste assim de rompante na minha vida, numa altura que tudo parecia correr bem. Hoje pergunto-me se apareceste por estares convencido que irias desfrutar para sempre de uma passadeira vermelha. A vida corria-me sem sobressaltos, julguei que ela me resolvera presentear com um amor incondicional.

Não te esperava, acho que nunca esperamos o melhor de nós. Habituada a viver tranquila, sem essa pressão de tantos, em perseguir um sonho cor-de-rosa, apenas vivia essa rotina normal de um dia a dia calmo sem brilho.

Aos poucos entreguei-me sem muita resistência àquilo que julguei ser um tempo de mimo, sem data marcada para conversas sérias. Estranhei essa tua urgência de buscar palavras e definições certas para os nossos momentos.

O meu desejo era apenas usufruir dessa pausa de menina guerreira, papel que me habituei a desempenhar desde criança. Aninhada no teu colo nessas manhas soalheiras de domingo, aprendi a respirar fundo, a dar-me ao luxo de deixar escapar uma lágrima antiga, um suspiro retido.

Contigo vivi todos esses estados de espírito que só o amor, embrulhado nessa paixão ardente permite. Voltei a experimentar esse desejo de adolescente, na urgência de chegar aos teus braços. Tantos anos depois e tantas juras a mim mesma que esse barco sem destino certo não voltaria a embarcar.

Essa tua persistência em fazer-me crer no teu amor incondicional deveria ter-me alertado, para experiências anteriores, mas cansada dessa luta de guerreira, perdi-me dos meus sentidos, desliguei as antenas, e fui assim deixando-me embalar nessa tua história de fadas.

Tudo para mim era uma verdadeira alegria, desde o pequeno-almoço servido na cama com esse teu ar de chefe, a flor comprada ao indiano, que sempre achei uma parolada, enfim!

Foste assim insistindo nessa história de amor incondicional, e eu fui-me desprendendo das minhas eternas defesas, sei que te trouxe facilidades. Que porventura achaste que pelo embrulho exterior tudo seria caminho sem curvas, sem tormentas e cheio de facilidades.

Estranhei o teu franzir de sobrolho à primeira dificuldade, a tua estranheza e o teu recuo.

Hoje sei que a tua história era apenas mais uma, que navegas numa passadeira vermelha com mais que um patrocínio, pois assim foste cedendo aos apelos familiares, que te prometeram mais ajuda e presença.

Assim fui descobrindo nas palavras que ficaram por dizer, que essa tua queda por passadeiras vermelhas é inata em ti, pois gostas mesmo é de ter essa vida que cresceste a cobiçar de alguns!

Eu cá fico com a minha verdade!

Odeio vermelho!


Maria Sá Carneiro

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Nada!

Aqui no meio do nada vezes nada, tento entender a gigantesca e brutal carência que se me cola, a que tantos chamam solidão. Anos e anos que procuro em mim, explicar-me que quer dizer essa dita cuja solidão. Pensamentos de horas corridas e enrodilhadas em direcção pouco assertiva e errónea. Solidão é apenas um chavão pesado e penoso! Talvez o que realmente me dói é essa falta de mimo e de sentir protecção. Um colo no qual eu possa mergulhar e sentir esse cheiro, mescla de perfume machão e de pele curtida pela vida.
Um abraço, um regaço, um porto seguro, ou apenas um gesto de compreensão, uma luz, uma ideia, uma festa, uma esperança!
Uma saída que já nem precisa de ser airosa, mas uma luz. Vivemos nessa corrida batoteira à procura de holofotes, quando apenas nos basta uma vela quente e firme.
Esse desespero acumulado que me leva a escrever linhas sem sentido, em versos de folhetos desta sociedade de promoção em promoção na verdadeira despromoção do ser humano.
Essas vozes que te apelidam de nomes de família outrora famosos, essa gente que te julga, quando já nem sequer podes pôr um cego a cantar.
Essa multidão desumana que só clama com o que lucra, e pior que tudo isso, esse passado que não te larga, essas armadilhas, cordeiros verdadeiramente disfarçados, quando apenas são lobos, sanguessugas que te querem ver lá no fundo.
Apenas porque és genuinamente tu!
Seja isso bom ou mau, para ti é verdade.
Atordoada pelo teu próprio desespero, vais assim cavando o teu buraco onde jamais a terra te cobrirá, pois em cinzas queres te tornar.
Em nada vezes nada, mas não mais nessa agonia de olhar e nada ver. Estender a mão e em nada tocar. Chorar lágrimas grossas que caiem em saco roto!
É como se fosses outra vez e repetidamente, vezes sem conta, essa criança naquela noite tenebrosa de trovoada, apenas abafada pela discussão do quarto ao lado.
Assim te vais entregando um bocadinho mais todos os dias à espera do dia que nunca chegará.
Frases que foram ficando gravadas e tatuadas em ti para sempre. Frases que levas tempos infinitos a digerir, sem que nunca as conseguir sequer processar. Essa maldade que não consegues aprender, vai assim acabando contigo.
Continuas a ter essa esperança de criançola, que essas pessoas vão estar aí para ti, como tu estarás sempre para elas, esquecendo essas maldades que te foram lançando como se de mau-olhado se tratasse.
Essa generosidade de estar sempre à mão de semear, criou-te esse fosso ente ti e tu. Baralhaste fronteiras e territórios, assim as tuas cinzas ficarão na terra de ninguém.
Porque foi nisso que te fostes tornando, em ninguém, em nada vezes nada!

Maria Sá Carneiro

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Linhas!

Viajo ao ouvir-te, interrogo-me sempre como tu, Amiga minha, tens essa força toda cravada em ti, que se solta cada vez que pisas um palco, misturando-te com ele, dando voz à tua alma/coração!
Nunca esquecerei a primeira vez que tive o privilégio de te ouvir, fiquei como assim colada ao chão, paralisada por uma enorme emoção. Obrigado pelas palavras do blog e dos textos, mas nada se compara à tua voz!

Apenas as linhas por ti pedidas:


Hoje

Acordo presa na secura da garganta, de quem te chorou noite dentro. Perturbada nem sei se pelo sonho quase doce de te tocar, se pela desilusão de picos de glória, e essa tua ausência. Esse bater de porta onde há apenas restos de mim!
Cansada desta dor que não me ultrapasso, imbuída em mágoa e saudade. Sei que também te sofres, mas também te conheço o suficiente para saber que continuas a cantarolar apesar de nunca saberes a porcaria da letra. Sei que brincas com a dor, finges-te de profundo em altas considerações sobre a dureza da vida, disfarçando assim a dor de nós, e a vergonha que tens tatuada em ti por me teres ensinado a cor do arco-íris, o prazer de andar à chuva, quando tu agora por aí, nesse mundo distante e difuso, vives como assim que acobardado, entre chapéus-de-chuva e xaropes para a tosse.
Atreveste-te a sorrir! Sorri à vontade pelo menos eu fui seguindo assim sem nunca me misturar na lama humana apenas para ter alguém para levar à missa que nunca chegas de facto a comparecer.


Amanha

Sei que vou partir deste inferno da minha alma cravejada de desgostos e preocupações que não alcanço vencer. Encurralada nesse beco que criei, mas em que não encontro sequer uma saída digna.
Tempo foi passando e não descortinei que viajava sem rumo, não me apercebi que rumava em direcção ao abismo. Sinto-me aos poucos a enlouquecer por não sentir nenhuma melhoria, nem nenhum caminho por mais duro que ele seja. Espanta-me ainda a indiferença do povo que navega na nave ao meu lado, à distância de um toque, um sms, ou um beijo.
Revisito o meu percurso na tentativa de me aperceber se também fui assim como que mázinha para os outros, mas não encontro nenhuma falha assim tão grave para este penoso caminho de solidão e dor!
Provavelmente crime grave terei cometido para tal castigo!
Gostava de voltar a esse velório apenas como uma brisa para tentar vislumbrar algumas falsas lágrimas!


Queria ter essa força poderosa de saber escrever linhas dignas dessa voz, mas parece que o meu desespero se apodera das teclas, volta sempre e sempre, mais forte do que eu.
Como precisava dessa força da alegria de fazer assim amor sem pressa, num domingo ensolarado à beira mar, flutuando na maresia de verde-mar. Num abraço fechado tantas vezes vivido que tão preciosamente guardo comigo até hoje.
Não sei bem de quem falo, para quem falo, ou mesmo quem sou, hoje aqui e agora. Sei que tento assim planar num dia de sol à beira-mar, na esperança de reencontrar aquele momento só nosso!


Maria

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Saudade

Tento escutar um som, um sinal, algo de ti. Perdi-te sem me puder dar a esse luxo. Vagueio entre um sorriso tímido e uma lágrima grossa à procura do que resta ainda cravado e encarcerado em mim de nós.
Vacilo entre continuar a lutar ou pura e simplesmente deixar-me ir, ao encontro dessa luz que me puxa como uma atracção que sei que será fatal.

Longes vão os tempos de seres saltitantes gravitando à minha volta, perante a hipótese de algo em mim que fosse sucesso, como sanguessugas ávidas de picar fosse o que fosse. Lentamente tudo se esvaziou, pois os tempos mudaram, o vento sopra noutra direcção.

Não sei se dói mais esse estrondoso silêncio, se uma mensagem ou outra como tivessem alguma compaixão. Momentos em que a luz do dia se funde nesse mar de angústia do silêncio da noite, que pelo menos sonho em voltar a ti. Em ter esse colo de braço forte, em que podia respirar fundo, porque estava protegida.

Nem sequer já me importa a ausência de notícias daqueles “habitués”! Devem ter receio que lhes peça algo. Assim como sempre me ensinaste nestas alturas é que vemos que temos uma ou duas pessoas, o resto é um deserto.
Ás vezes sorrio ao pensar se partisse abruptamente, como ficaria o que resto da alma deles perante o meu adeus.

Assim vou gravitando nestes sentimentos confusos de quem perdeu o norte.


Recordo sempre esses jardins que contigo percorri de mão dada, essa força que me davas, o brilho dos teus olhos.
Entendo agora porque me embaralhei em tantos atalhos e cruzamentos, assim como a fugir dessa mágoa maior que a minha força.

Mas vou assim lentamente afogando-me em nós!

Maria

quinta-feira, 17 de março de 2011

sombras

És como uma lapa agarrada a mim. Sim tu sombra escura!

Oiço-te a ti de bem chamar-me à vida. A tua doçura de voz, através desse olhar de transmissão de vida, tento escutar-te mas o vazio entrepõe-se entre nós. Já me transcende essa força preta e dura à qual, bem sabes, já me entreguei.
Sorri com os teus planos encorajadores, a tua conversa floreada que merecemos esse sonho de vida.
Sim seguramente mereces viver, ou melhor começar a viver para ti. Depois de tantos anos de dedicação a tanta gente, que muita afinal era assim pequena.

Queria acreditar ser merecedora desse amor que falas, dessa esperança de outro estilo de vida. Gostava de ter força para acreditar nesse projecto que me ofereces tão generosamente, mas também sei que não o mereço.
Dirás dias…Um de cada vez.
Digo-te chega, não posso mais!
Neste amor fraterno e sério nos vamos assim debatendo armas de réstias de forças contidas e por expressar. Sei que comigo te tocam as palavras…
Sei que de algum jeito, comigo te atreveste mais a mostrar uma ponta de sentimento, contido e fechado a sete chaves.

Assim que tentas manter-me na crista da onda, quando no fundo já sentiste que esse mergulho fechado é a única coisa que tenho como certa. Mas levo comigo esse abraço fechado que me dás desde sempre!

Maria

terça-feira, 15 de março de 2011

"Fronteiras"

Pedes-me palavras que esperas como um sopro encantando, carregado de melodia, embrulhado nesse balanço entre o luar e verde-mar.
Os teus olhos brilhantes pedem-me calma, tranquilidade. Sentada neste morro, mirando o horizonte sem fim, procuro e sonho com o teu regresso. Montando num cavalo branco e esguio, com esse teu ar de lutador/durão. Ambos sabemos como me tornei assim trágico/frágil!
Esse merda de conversa de sempre de onde não alcanço sair!
Ao princípio enlouquecer era um mero receio, uma suspeita fundada naquilo em que me fui afogando com esse ar de travessura. Hoje olhando mesmo só de soslaio para trás concluo que no teu olhar já tinhas esse medo.
Queria cantar-te essa melodia que tanto te iria descansar!
Perdoa a minha fraqueza, a minha falta de coragem para apenas de erguer deste morro e saber prosseguir.


Ao lado aprecio as minhas vizinhas/amigas que hesitam em prosseguir. Essas seguramente o seu obstáculo não é a loucura, é sim esse inimigo social/estúpido do “se”.
Dúvidas de quem se enamorou por alguém que partiu, e provavelmente nunca as mereceu. Hesitações em viver esse dia que está na frente delas, sorridente e soalheiro.
Dou tantas vezes por mim a pensar como nós enrolamos em dúvidas que apenas existem dentro de nós, como habilidosamente criamos obstáculos por esse medo, esse arrepio que nos percorre a espinha, cada vez que vislumbramos essa oporunidade de ser de alguém outra vez.
Tanta hora enrolada no que teria valido a pena, quando apenas se calhar bastaria ousar experimentar corresponder a esse olhar meio provocante do cavalheiro da mesa da frente.
Mas o mundo está repleto desses ditos cujos cavalheiros que nem montada segura têm para nos oferecer.
Pois o mal é que procuramos esse amor incondicional doirado que nos fizeram crer em miúdos, quando o mundo está a abarrotar de “Velhos” que partem nessa solidão profunda, nessa fronteira de amor incondicional a abandono fatal.


Sim divago entre este e aquele, flutuando nessa nuvem que me há-de transportar, e olha desculpa seguir desiludindo-te!

Maria

domingo, 27 de fevereiro de 2011

domingo, 13 de fevereiro de 2011

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

"Frio"

Nem sei por onde começar. Talvez desabafar contigo. Olha toda a gente diz que tu morreste. Desculpa lá dizer-te isto assim a sangue frio. Até me arrepia. Pois dizes bem, devem estar loucos, ou será que sou a única pessoa que te vejo?

Não entendo o que se passa, insistem assim até com alguma brutalidade, que eu tenho que seguir enfrente. Já não entendo nada.

Nem consigo alcançar o que será seguir enfrente sem ti, eu deixo falar, reconheço que me dá arrepios pensar que um dia poderá ser verdade, que partas.

Ambos sabemos que nunca estarei preparada para essa partida, e que prefiro ir na tua viagem, do que ficar aqui, assim…só!

Era um dia lindo de verão. Um calor de sol aberto e sorridente. Vendeste-me um piquenique no rio. Que excitação! Só de pensar que ia estar só contigo, e tu comigo. Um dia inteiro junto àquilo que mais amamos. Essa imensidão de água verde, brilhante de sol. Senti-me tão importante.

Uma azáfama arranjar a comida que imaginei como melhor para ti. A tua bebida preferida!

Eu assim inocente nos meus treze anos, achei que era apenas um momento de partilha!

Tu sempre fino, lá para o meio da refeição, começaste essas conversas longas, sem fim à vista, onde apenas o próprio fim era convencer-me, que tudo aquilo que me tinhas ensinado até ali se tinha evaporado, tinha havido um ciclone de ideias, ou melhor ideais!

Apesar dessa adoração toda que tinha, engolindo esse encantamento da refeição mágica, não entrei nesse teu ciclone!

Está noite escura e fria. Acordo assim assustada, que raio de pesadelo!

Sei que não tenho que aceitar essa tua partida!

Enquanto a minha viagem não se marcar!


Maria

domingo, 6 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Apenas!

Não sei se escrevo apenas por já não puder mais, se escrevo para que te sintas mal, se me despeço, ou se me ultrapasso, neste desespero crescente, que me enreda/embrulha como uma bola de neve. Talvez esta normalidade sempre tranquila, que me rodeia, essas exclamações/interrogações quando apareço, essas conclusões precipitadas, de quem se aparenta interessar, mas que não altera uma vírgula ao seu comportamento. Deve ser defeito meu como quase sempre, essa tendência para o limite, ou revolta de ser pajem em território alheio. Pela minha incapacidade de ter criado terra fértil de amor, onde os espinhos seriam vencidos por todos. Não entendo como não pressentem/intuem a minha crescente loucura, o cansaço que já se me embrulhou, e que apenas matuto o dia da minha partida. Sim sei que me vais julgando de uma maneira ou de outra, mas não me acompanhaste desde cedo, admito que não me valides como louca.
Reconheço que amava usar essa energia de loucura noutras terras e noutras culturas, mas não soube libertar-me, nem soube não deixar embaralhar-me naquilo que esperavam de mim, naquilo que dava jeito que fosse. Agora aqui sentada nesse banco de madeira partido, com esses óculos desconchavados apenas medito e hesito na hora. Bato mal demais nessa gaiola doirada/furada, na qual já não me encontro.
Queria mesmo um rasgo de génio, ou um toque de amor, uma festa/abraço, ou uma ameaça velada, no fundo apenas um gesto. Um toque de cajado como se de um animal birrento/desorientado se tratasse.
A escolha não está em desistir do que não se pode, por já não haver retorno. Não se trate de contornar, pois já não já fuga possível. Apenas resta essa partida que aguardo que me inspire, num gesto brutal.
Queria estar aqui mesmo sem nada, a escrever-te letras de amor, esse amor que se nos rasga a roupa nessa urgência/demência de nos possuirmos até à exaustão dos corpos melados de amor/suor, mas estou frágil demais para embarcar nessa viagem de força.
Apenas sigo matutanto….
Refuto apenas essa loucura de me entregar à maré do esquecimento, de me arrendar de corpo e alma, de ir por aí pedinchando aquilo que tantas vezes já dei com todo o meu amor!
Apenas sigo meditanto…
Maria

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Sem título nem nada!

Sonho agitado entre este e aquele problema que não encontro nenhuma solução exequível. Embaralhada nesta dor miudinha que me corrompe e desanima, tento buscar-te nesse nevoeiro azulado. Procuro-te sabendo que jamais te poderei encontrar de volta, pois infelizmente já te foste. Quase que te vislumbro naquele banco de jardim onde sempre te sonhei encontrar com esse sorriso aberto à minha espera, impaciente como é sempre, habitual em ti. Parece que ainda ontem nos vimos, esse abraço fechado é a única esperança que me mantém à tona. Como essas conversas sobre todos e nenhuns, me dão alento e me fazem sempre sorrir.

Parece que foi ontem que nos passeávamos de mão dada à beira mar, com a tua voz pausada e forte, me ias tentando dar vida, que me encaminhasse e retirasse desse pântano de mau ambiente, e desespero. Onde o que era verdade hoje, era mentira amanhã.

Nesse era não era, sempre me tentaste guiar para o caminho onde houvesse uma réstia de luz. Talvez o teu instinto te tenha feito entender que tanta coisa negra me faria mossa. Essa que poucos entendem e alguns troçam.

Chamam-lhe “hábitos”!

Tretas vou assim escrevendo à falta de imaginação para mais. Queria ter esse teu rasgo, e essa força para conseguir prosseguir sem esse negro, que se me colou como ventosa. Negro que não se me desprende.

A idade vai correndo, e essa troça já nem me afecta nem me entristece mais, é apenas assim.

Vou encontrando alento em quem mais precisa, e nessas recordações idas.

Por vezes interrogo-me se será doença, ou apenas saudades mescladas com esse cansaço extremo, de mim. Vou-me assim despedindo daquilo que não alcanço mais carregar!

Mas guardo no melhor de mim aquilo que contigo fui abraçando.

Nesse banco encantado sigo sentando-me em dias, ora de sol ora de bruma. Sonho ouvir ao fundo essas gargalhadas das brincadeiras de menina, onde saltitava à tua volta, sabendo que no teu bolso, me esperava um doce salpicado de cores, e dessa importância que apenas tu soubeste fazer-me sentir!

Guardo-te nesse sonho em me projectei em ti e para ti. Se me embaralhei apenas foi pela tua ausência.

Mas sei que um dia…Vou-te voltar a encontrar!


Mico

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Dias!

Escrevo-te como que…

Olhes para mim e me procures.

Perdida nessa passagem de vida,

Compreendo que não consigo vencer-me!

Saudades desse abraço fechado,

Desse sorriso aberto.

Vagueio nessas contradições,

Que só o amor torna possível.

Incoerente em mim sonho de ti,

Não sei por onde hei-de ir mais.

Revisto lugares nossos,

Busco por nós.

Sonho que um dia…

Um dia será nosso dia!


Maria

domingo, 30 de janeiro de 2011

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

"Estórias"

Cansada desse teu ar reprovador, dessa critica velada, àquilo que chamas delírios de mulher, resolvo de vez partir. Farta desse olhar por cima do ombro, cada vez que estamos à luz do dia, para a minha anunciada casca de laranja, decido calçar uns patins, assim te referes aos teus brilhantes coleguinhas de trabalho que trocam as suas mulheres pelas esguias e parvas secretárias.

Tantos projectos em comum, conversas noite dentro, nos braços um do outro, promessas que nem a celulite nos afastaria.

Por vezes pergunto-me se te vês ao espelho, com essa testa que mais parece um aeroporto, com a barriga meia assim cai que não cai? Apesar desses teus heróicos esforços de seres um atleta tardio e suado que nem um porco.

Parto logo que vejo uns raios de luz, levo o carro tão anunciado como meu, mas tão cobrado como teu, deixo-te assim como cobrança desses anos acumulados de esforços para nos manter à tona da água.

Pego nos meus tarecos e deixo-te de recordação as belas prendas doiradas que tão generosamente me ofereceste como prémio de eu ter fingido que não sentia esse cheiro repugnante das tuas chegadas de madrugada, de reuniões de trabalho em quartos de motéis cidade fora, entre perfume franziu/sovaco.

Imagino o teu olhar indignado de quem hesita em respirar aliviado, e preocupado no que vai dizer aos seus preciosos círculos de amigos e família.

Será que vais contar a verdade?

Qual verdade?

Que parti de um nós que só existiu mesmo em boas intenções da minha parte, que parti para ser livre em mim, e não para me livrar de um tipo cheio de presunção, que precisa de se afirmar pelo exercício de montar tudo o que mexe, e pelo dinheiro que consegue demonstrar ter.

Tanta mágoa e crítica despejaste em mim por eu não puder ter filhos. Tanto sofrimento engoli aos baldes por não ser capaz de te dar uma fila de crianças a quem, hoje, tenho a certeza que nem o ranho limparias!

Vou assim devagar, sorridente, parto de um eu imposto e fabricado para bem servir, quem jamais o mereceu.

Sim eu sei que não tenho preparação para esses mercados virtuais e exigentes, que te moves como uma enguia, mas vou abraçar esse meu projecto de ser livre e verdadeira.

Maria Sá Carneiro

sábado, 22 de janeiro de 2011

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Apenas!

Busco palavras encantadas para te cantar!

Reconheço que não te sei cantar essas palavras doces, mas quero levar-te ao luar do nosso jardim secreto e murmurar-tas ao ouvido, assim devagar. Quero escutar o brilho da tua alma, dar-te esse abraço fechado e quente, de quem está assim tão simplesmente ao meu lado. Apenas por me apreciar. Apenas por me admirar, e me considerar.

Contigo recordei o que é alguém gostar de nós como seres humanos.

Contigo tenho viajado nesse regresso às boas recordações. Conversas secretas de pequenas inconfidências do passado, pormenores apenas apreciados por quem saber ouvir com paixão de vida.

Assim como velhos sentados em banco de jardim, planeamos loucuras fora de época, traquinices de meninice, nessas incursões com brilho verde-mar!

Esse alento que me transmites nesse sorriso rasgado como realmente eu fosse assim tão especial, que te torna especial e essencial.

Queria acordar com voz bonita e poderosa para te cantar, músicas cheias de conteúdo, ricas nesse sentimento que me mantém assim viva, Esses pedaços de algodão rosa com que me vais alimentado. Nesse resgate donde me retiras dessa angústia de desgosto de vida em que me viciei. Nessa entrega desmesurada a quem não me queria nem para cantigas.

Contigo tento aprender que nessa ilha deserta não há caminho, e que não posso viver presa naquilo que já não existe, se é que realmente alguma vez existiu.

Esta é aquela altura em te deparas perante as minhas pequenas linhas, e te interrogas que mesmo quando tento escrever verde-mar/esperança as palavras continuam a sair pesadas/pesarosas. J

Mas sigo tentando!


Maria

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Guardo!



Presa nessa cadeira de rodas da vida aguardo com ansiedade a tua chegada. Recordo não sei se com dor, se com mágoa, se com saudade desses dias que já tive quase tudo. Tudo perguntas-me?

Sim tudo que é admirado e que leva a que os “outros” te respeitem e que te dediquem atenção.

Não sei se fui mais feliz nesses tempos de abundância de tudo ou de quase nada. Tive muita coisa mas agora olhando para trás, não vejo quase nada que realmente tenha semeado. Houve tempos idos que qualquer data que fosse digna de assinalar toda a gente ligava, ninguém queria ficar para último.

Agora o tempo corre lento e silencioso. Ainda te lembras quando eu era capaz de ajudar quem precisava? Ao menos nessas alturas essa ajuda alivia-me a dor, essa dor de criança de quem teve que regatear um carinho e um abraço.

O tempo encarregou-se de mutilar essa minha parte saudável e activa, aqui me plantou à beira do nada, apenas com uma esperança. Que chegues, me abraces, me atenues essa agonia de ainda ser gozada das minhas incapacidades.

Julgo que se esquecem da roleta viva que nunca pará e que lhes pode bater à porta, também nessas alturas em que cismo de mim, recordo-me sempre das tuas sábias palavras…

Se realmente gostassem de mim, gostariam independentemente da roupa que sou capaz de adquirir, da teimosia do meu corpo em não se mexer, e nesse abraço que ainda sou capaz de dar.


Sabes? Guardo esse abraço só para ti!

Maria

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Silêncios

Não alcançar saber ou sentir o que me dói mais, se o teu silêncio, se a minha certeza que era inabalável que jamais me deixarias cair. Nem por tricas nem dicas, arrufos, mal entendidos, quer a razão te assistisse ou não. Contava que no fim da linha estarias lá sempre.
Deixei-me embalar por esse murmúrio quente que se me entranhou na alma, no coração. Essa esperança de um regaço.
Sonhei com esse jardim verde-mar onde eu podia ser essa criança desgarrada que finalmente encontrou o seu recanto.
Falo desse amor de nome pomposo de incondicional. Hoje aqui no meio de tanta gente, percorro-me como uma projecção de slides, correm devagar, turvam-me os olhos, e sinto-me assim miseravelmente só. Tento sorrir nessa alegria tocada de bom vinho, boa comida. Mas dói-me essas ausências, essas tantas chapadas de luva branca ou o raio que as parta. Revejo meticulosamente o que nos poderia ter levado a esse silêncio pesado e triste.

Tenho medo, desse frio vagaroso que nos percorre a espinha Tento antever uma saída airosa, um projecto do nada, um simples apelo que o tempo retroceda e me conduza de novo a esse abraço fechado.
Perdi essa resistência de lutadora incansável, armada de heroína falhada que iria salvar, essa menina loira, de caracóis dourados, que se perdeu ao dar passos maiores que a perna. Desgastada de julgamentos fáceis, criticas anunciadas de que há muito se esperava o insucesso, porque o sucesso não se perdoa facilmente.
Encontro algum alento de quem pura e simplesmente mal me conhece mas me aceita como ser humano.
Mas ambos sabemos que as horas piores ainda estão para vir.
Adormecer sem esse embalo, sossegar essa criança que vai teimar em não dormir, nessas histórias e contos de amor em que a embalavas. Explicar-lhe que hoje não há sonho, não há essa esperança de amanha ser um dia melhor.
Maria

domingo, 9 de janeiro de 2011

Hold My Hand

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

"Mãos Dadas" - Carlos Drummond de Andrade