sexta-feira, 30 de julho de 2010

Contraluz

(Mensagem Especial de António Feio 1954-2010)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Viagens!

Cada dia que passa vou-me esvaindo em mim. Desilusões as que provoco, e as minhas. Ainda não entendi quais são as que me ferem mais. Cansada dessa critica implícita, velada, ou talvez o problema esteja mesmo é em mim. Desses dias que saltito de exame em exame, desses sucessos que no fim das contas, nada mais são do que insucessos histéricos. Tacadas sempre altas demais, previsões e derrocadas interiores que no fundo ninguém quer saber. No fim cada um vai seguindo o seu caminho após de se ter abastecido com o que lhe fazia falta. A alegria é mal entendida, o rebentar dessa pressão que te vai espezinhando em ti própria. Não mereces um sorriso de ternura mas sim de censura, pressinto que às vezes bastaria um beijo e um sorriso para afagar a alma dorida. Assim vais te sentindo encurralada para dentro de ti, a idade em que irias vencer já muito que já a viraste, as façanhas de coragem já não rezam para a história. E esse aperto no peito cada vez te sufoca mais. Escolhes estas linhas para te abraçares, para fluíres de ti para ti, mas nem isso devias fazer, estás a expor-te demais, não se escreve em tons de preto e cinzento! Não sei pintar a cores, isso é um grande handicap! Assim cada vez te vais sentindo mais à margem, como um náufrago de ti mesma, com uma diferença, estás a ficar chata, e pesada, nesse mundo pseudo cor-de-rosa, és um queixume incómodo. Já nem os miúdos te acham piada pois cresceram muito espertos e cientes das suas maravilhosas razões e sabedoria a pacotes. Assim te sentes impiedosamente a mais, nesse mundo onde já eras. Embrulhada nestas confusões/desilusões, ainda teimas em escrever, o que certamente irá ser mais um motivo de discórdia! O tempo arrasta-se e tu lá vais prosseguindo com um sufoco /aperto no peito, a noite pesa-te, essa dor rouba-te o sono, agarrada a essa almofada de sempre, temes o pior. Não alcanças a luz de qualquer futuro que julgavas merecer, um abraço que tanto foi objecto dos teus sonhos e tanto te prometeram. Acabas sempre por te deixar embalar, quando já devias saber que esse colo roubado na altura cera, não é recuperável Assim como tu!
Rende-te à tua solidão e não lutes mais!
Entrega-te a esse estado que a tua vez já passou, perdeste esse comboio, como algum sábio te avisou, quando entraste no apeadeiro errado…
Maria Sá Carneiro

sábado, 24 de julho de 2010

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Medos!

Estranhas-me porque esperas que eu seja assim como tu. Vais medindo assim pelo teu metro, às vezes acho ternura por o saber tão genuíno, às vezes revolto-me por não veres as minhas cores laranja/preto, misturado com mar, sal, verde, azul, cinzento. Nessa diferença deveria ser possível a aproximação, a compreensão, e não um muro de silêncio, como uma recusa implícita de a diferença ser um ponto a desfavor.
Vivi anos a fio a tentar ser diferente, a tentar ser uma excepção a esse modelo que interiorizamos de crianças, puras e abertas ao que nos dizem, e na revolta do que vemos fazer nesse dúbio triangulo pais/filhos.
Como muitas vezes brinco uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa!
Se nos fosse possível ter a consciência de que educar/formar é uma tarefa gigantesca, não sentiríamos essa revolta da diferença do que é possível. Essa frase do “possível” sempre provocou em mim uma irritação invencível ao meu bom senso, assim como a palavra calma.
A idade vai nos “transformando” ou fazendo-nos render a esse tal de “possível”, a vida vai nos cortando a poesia, a esperança nesse banho de realidade impossível de não ver. Contudo guardo sempre uma reserva de verde /mar, desse voo mágico de mão entrelaçada que me coloriu em criança!


Sonhei de nós nesse sítio só nosso, onde tantas vezes cozinhamos pratos/tapas, entre uma taça de champanhe e a minha habitual mini! Nessa diferença de “nível” de exigência de grupos de consumo, sempre fomos atinando um com o outro. Magia de banho de por do sol, inspiração de amores incondicionais trouxeram-me até aqui…

Aqui neste sítio criado a partir do melhor de nós aguardo-te com o peluche de sempre, que outrora eu classificaria de piroso. Embalada nele vou sorrindo à tua espera, sei que irás sorrir quando os teus olhos nos alcançarem.

Sonho que me perco, me desvio e me descontrolo! Acordada no silêncio da noite escura e pesada! Coração com um batimento descompassado, aperto no peito, fantasmas antigos. Arrepiada estendo timidamente a mão na incerteza que estarás a meu lado conforme o meu maior desejo. É tão premente encontrar-te nesse leito grande demais para os meus medos, que chego a temer o pior!
A minha mão ainda trémula encontra-te num abraço fechado e quente, como eu precisava dessa segurança doce, assim vou crescendo e vencendo essa fronteira que por vezes me enrolava numa tristeza antiga de mais para ser consciente.
Assim me vou rendendo ao teu colo!
Maria Sá Carneiro

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Deixa!

Procuro uma brecha de luz nessa escuridão! Anseio que amanheça! Já nem me preocupo que não entendas a minha dor, que não alcances o meu buraco preto/cinza, que se me tatuou na alma desde bebé! Quero lá saber que aches que só me lamento no meu choro, que tudo pode ser simples, porque simplesmente eu não sou essa. Procuro a verdade, a simplicidade é uma característica inata. Como te posso fazer entender a minha solidão de sempre, quando me recusas um beijo, só por não entender que te maces quando não faço o que achas melhor para mim!
Não é simples esse entendimento que primeiro estou eu! Porque jamais o sentirei assim, tão desgarrado de sacrifícios, isolado de vícios, apenas o melhor para mim, O que me move é o melhor de mim, o melhor que tenho para dar, alicerçado na verdade, na generosidade, de ainda me puder dar ao luxo, de viver com verdade. Nesse desvio permanente que nos rodeia, torneia, e tenta dobrar para o facilitismo instalado, ao qual me recuso a vender!
Queria poupar-te ao pior de mim, mas é como uma promoção, vem incluído no pacote, e por mais que tente não consigo afasta-lo. Tentei colori-lo, pintalga-lo com uma ou outra piada, mas às vezes não consigo disfarçar.
Custa-me escrever estas linhas, queria proferir declarações bonitas, com cheiro a maresia, embaladas pela limpidez da água e a força do mar! As lágrimas escapam-se assim insurrectas, à minha postura irreverente e despreocupada, de guerreira insaciável por uma briga pela verdade, nesse balanço de podridão, desse mundo prepotente, que só se move pelo sucesso pessoal, pela carreira, mesmo que seja à custa do próximo. Eu não sou essa lutadora incasável, sou uma pessoa simples, de causas justas, desprotegida pelas partidas antes do tempo, e pelas más escolhas de figurantes vilões!
Queria ser feliz por ti e por mim, para que me sentisses mais “normal”, mais sei lá o quê!
Queria sentir esse direito ao queixume moribundo tão em voga por aí, queria… Sabes? Queria apenas ser pacificamente calma, ter essa habilidade de não me destacar de nada nem de ninguém, ser mais uma entre tantos. Aprender a escolher esse caminho aparentemente mais fácil…
Queria abrir-te a porta da minha alma, revisitar contigo esses recantos mais ou menos sinuosos em mim, para que não te restassem dúvidas, que não tento vender-te o software sem antídoto, que não sei ser assim como preferes. Mas que vivo pela verdade, doía ela a quem doer.
Confuso? Também acho!
Deixa…o sol acaba sempre por nascer…
Maria Sá Carneiro

terça-feira, 6 de julho de 2010

Chega!

Hoje

Perdida nesse mundo de betão, rua após rua, vagueias assim como desgarrada de ti. Peso a mais, barriga grande, peito descaído, uma sombra do que já foste! Olhas perdidamente para baixo, falta-te fôlego para mirar o futuro. Já nem sequer te questionas qual foi o primeiro cruzamento que viraste na direcção errada. Será que já não te recordas?
Terá sido aquele mostro que te desvirtuou noite após noite, com a promessa de um casamento eterno, casamento esse que já tinha com outra. Aquele sedutor de meia tigela que à época te parecia tão encantador e charmoso. Fizeste ouvidos moucos daqueles conselhos sábios de teus Pais.
Nem sequer sabes se o que te doeu mais foi as mentiras, ou aquele aborto que ele te obrigou a fazer, como ele te manipulou…
Acho que é essa dor que ainda te vai matando aos poucos, um bocadinho todos os dias do resto da tua vida.
Assim te arrastas de casa para o trabalho, pesadamente/penosamente. Essa solidão que te vai comendo, já não tens corpo que atraía nenhum moscardo, dinheiro também não, amigos esses foram-se na inocência da tua verdade!


Ontem

Acordei feliz! Finalmente tinha chegado o dia tão esperado que iria mudar a minha vida. Confiante e bonita, cuidada/aperaltada, só para ti. Três horas ao anoitecer para escolher a roupa mais apropriada para o grande dia!
Como estava feliz por me ir entregar a ti, nesse fim-de-semana tão cuidadosamente preparado. Sítio lindo escolhido por ti com tanto amor e carinho, para finalmente nos amarmos, sem barreiras, sem horas.


Amanhã

Tomei finalmente a decisão que adio há anos demais! Chega de sofrer, já não me aguento mais nesse ser vegetativo em que me tornei. Já não caibo em nenhum espelho, deixei de poder olhar-me nos olhos. Deixei de ser gente…
Assim parto sem sequer conseguir que te sintas culpado de todo o mal que nos fizeste! A mim e ao meu bebé!
Essa criança que eu poderia tomar nos meus braços, e o resto de menina que eu tinha em mim.
Chega!
Maria Sá Carneiro