quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Ajuda-me!

Caminho por esse corredor imenso onde o sol esplendoroso insiste em entrar. Essa luz forte parece chamar-me. Encosto-me à parede abalada por essa força que me sorri. Uma onda de paz invade-me o coração. Nesse sitio cheio de gente que procura um fim de vida digno, um colo, um mimo, uma esperança, que tudo não foi em vão.
O tempo aqui não corre à mesma velocidade, numa sala parece lento demais, na outra rápido e desesperado com cheiro a carmim de morte. Essa mistura de odores, de forças, de cores entrelaça-se nos meus desgostos, falhas, frustrações. Atenua-me o medo de me entregar a essa corrente mágica.
Toda a gente tem um bom dia, um sorriso! Longe dessa correria em que o mundo se transformou, aqui há paz.
Não há doirados, nem plásticos pintados de deslumbres e berloques, aqui tudo parece ser verdadeiro, ter nome próprio sem títulos ou aditivos.
Sinto-me bem aqui, parece que o medo não existe, apenas uma espera calma, de quem já só ambiciona viver um dia de cada vez, e cada dia o melhor possível.
Essa luz é mágica aquece-me e embrulha-me. Os meus olhos procuram por ti, como já tenho saudades tuas. Acho que sinto esse cheiro tão teu, e meu!
Esse perfume inconfundível que me acompanha desde criança.
Sim tens razão tanta luta não leva a nada, sim recordo-me bem como contrariavas quem me ensinava que temos que ser os melhores, que não podemos falhar…
Também sei que não foi isso que me ficou gravado, ficou esse grito e alerta de guerra, que o meu coração nunca acompanhou. Esse esforço desumano exigido a uma criança ajudou a cravar esse fosso e esse desespero de quem tenta correr ao lado de quem tem para cima de metro de perna forte.
Agora sim vou-te escutar!

Maria Sá Carneiro

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Ecos


Finalmente chego a casa. Mais um dia, mais uma rodada infernal de mim sem ti, e ti e ti. Só me apetece instalar-me no sofá, afogar-me em calor de lareira, bebida forte, charro leve/intenso, nessa mistura de odores fortes, códigos postais de alívio.
Embaralhada em enredos que não alcanço nenhuma solução possível ou exequível, apenas gostava de não ter perdido a faculdade de chorar. Queria mesmo ser uma dessas tantas que por aí saltitam, de lamento em lamento, de bolso cheio e carteira dourada. Que levitam à nossa volta apenas quando pretendem algo de nós. Essa implacável falta de sentimentos que quase parece que somos portadores de alguma doença contagiosa.

Esse bater de porta de casa alegadamente minha, quase me pára o coração, abala-me a alma, faz-me cair de mim e para mim, nessa ilha isolada rodeada de nada. Assim o tempo foge-me entre as minhas mãos calejadas e gretadas pelo frio. Não me lamento, desabafo perante esta onda crescente que brota em mim, em forma de partida urgente de mim.

No meu sofá gasto anseio que se me apegue o calor da lareira, nesse embalo gravado em mim do teu colo doce, nessas tardes de domingo que nos dedicávamos um ou outro. Sim tenho saudades de nós. Saudades desse abraço que me transmitia paz e segurança.
Saíste para voltar mas…

Partiste assim de um dia para o outro, quando finalmente nos tínhamos começado a apreciar. Nessa descoberta que o tempo tinha passado, nesse sorriso entrelaçado de cumplicidade que se estendia dos cozinhados em viagens ao passado.
Já não me recordo exactamente qual de ti é que me faz mais falta, talvez tu da coragem e frontalidade, que apesar de me criticares quase sempre eu sabia que podia contar contigo.

Algumas coisas sentimos como nossas, pedaços de nós, Sítios mágicos que nos lembram o melhor de nós.

Nem sei o que me faz mais falta…

Aqui sigo sentada nessas recordações.
Maria Sá Carneiro

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

"Eu"/"Tu"

Hoje escrevo para mim e para ti, sim tu que nunca tiveste coragem de dar a cara. A ti que tantas vezes me vieste pedir abrigo, comida e colo. Nas horas e horas que aturei a tua lengalenga, ladainha mole de quem gosta de vomitar em cima do próximo!

Anos de ida e volta, aparecias e desaparecias, sendo certo que não falta gente quando estás na crista da onda. Gostava de te dizer assim alguma coisa que realmente te perturbasse ou te fizesse acender aquela luz, que nós os pobres, (não de espírito seguramente) chamamos de coração.

Anos de quase vinganças planeadas e muitas executadas, cimentadas apenas no ódio da diferença.

Ainda hoje me questiono qual a ilicitude da minha beleza, encarada como uma traição à dita cuja instituição da qual a minha identificação alude, mas que na maioria dos casos nem me belisca.

Um ou outro, outra mesmo… Recordações doces de infância terna em picos de dor alternados com um ou outro sorriso, que ainda hoje diariamente me amparam. Sempre surpreendida com tanta amargura e inveja, quando apenas nunca sequer quiseste conhecer a cor da minha dor. Dizes que virei amarga? Como te enganas…

Até na dor tens a habilidade de a transformar em teu troféu…

Às vezes deito-me com a minha imaginação fértil, e construo essa história de morte que sempre me acompanhou. Penso na cor das lágrimas que irás verter nesse momento oficial de despedida. Concluo no quente da minha sweet com carapuço, magnifica invenção para a alma partida que mesmo aí vais conseguir reverter a teu favor a despedida. Entre palmas e textos, colectas de altos cestinhos que parecem só levar agora 0.14 cêntimos, vais ser a estrela de ti própria, aquela mesma que tudo fez para evitar este desfecho, que já é hábito na família. Também te confesso que me irei estar nas tintas pois pelo menos o caixão irás pagar para inglês ver.

Revolta? Já nem isso sinto, apenas me encanto com quem consigo ajudar, apenas me encanto com tão poucos que me sobram muitos dedos, que continuam sem desculpas, estar assim por estar, apenas por de mim gostarem.

Esse carnaval de desfile já à muito terminou, e quase ninguém tem tempo para apenas dar a mão. De um momento para o outro ficaram ocupados freneticamente.

Sim deliro…Normal! Sempre fui assim desajeitadamente anormal…

Mas sim já falta pouco para esse teu novo momento de glória. Sim sigo sonhando mesmo a preto e brancoJ)


Maria Sá Carneiro

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Saudade!

Anos passam e a saudade cada vez é maior. Cada vez a minha idade se aproxima da tua, quando partiste. Cansada de ausências, enganos, e desta minha ladainha que não me larga. Este murmúrio continuo que se me agarrou à minha alma partida.

Tento e tento lutar, contra mim, contra esta gentalha que por aí saltita. Não pretendo inspirar pena a ninguém, mas acho que já dei tantas vezes a mão!

Tempos de insegurança e tristeza num mundo corroído pelos eternos subornos dourados embrulhados em papel de cunha, seguimos sem rumo. Facto que tenho a certeza não aconteceria contigo.

Queria a essa asa de génio só tua para momentos voar de mim, planar nessa coragem só tua, para sentir essa força que incessantemente busco no mar desde que te fostes. Acordar iluminada por esse olhar intenso que de tão forte, era o suficiente para me fazer corar.

É verdade que me tornei em restos de nada e de tudo, mas viver com gente tão impar, tão forte, de sucesso em sucesso, mesmo tentando imaginar os certos insucessos, versus o meu percurso são apenas reflexos longínquos.

Nesse relvado imenso que tão afincadamente cortas, nesses gestos atléticos de vaidoso e bem cuidado. Admiro a tua tenacidade e persistência, mas amo quando me piscas o olho. Tão importante e amada me fazes sentir!

Nunca foram os presentes mas o teu brilho ao veres as crianças animadas com tantos embrulhos. Esse prazer em dar…

Tantas histórias há para contar, mas palavras para definir essa força, essa coragem, e acima de tudo a esperança de vir a ter uma vida melhor. Essa capacidade sem nome, essa força que se transmitia apenas com um simples olhar, como preciso dela agora nesse rodeio de mim!

Guardo-te com toda a força que me resta, pois continuo ainda a ter uma réstia de sonho que aprendi contigo.

Mico