quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Ajuda-me!

Caminho por esse corredor imenso onde o sol esplendoroso insiste em entrar. Essa luz forte parece chamar-me. Encosto-me à parede abalada por essa força que me sorri. Uma onda de paz invade-me o coração. Nesse sitio cheio de gente que procura um fim de vida digno, um colo, um mimo, uma esperança, que tudo não foi em vão.
O tempo aqui não corre à mesma velocidade, numa sala parece lento demais, na outra rápido e desesperado com cheiro a carmim de morte. Essa mistura de odores, de forças, de cores entrelaça-se nos meus desgostos, falhas, frustrações. Atenua-me o medo de me entregar a essa corrente mágica.
Toda a gente tem um bom dia, um sorriso! Longe dessa correria em que o mundo se transformou, aqui há paz.
Não há doirados, nem plásticos pintados de deslumbres e berloques, aqui tudo parece ser verdadeiro, ter nome próprio sem títulos ou aditivos.
Sinto-me bem aqui, parece que o medo não existe, apenas uma espera calma, de quem já só ambiciona viver um dia de cada vez, e cada dia o melhor possível.
Essa luz é mágica aquece-me e embrulha-me. Os meus olhos procuram por ti, como já tenho saudades tuas. Acho que sinto esse cheiro tão teu, e meu!
Esse perfume inconfundível que me acompanha desde criança.
Sim tens razão tanta luta não leva a nada, sim recordo-me bem como contrariavas quem me ensinava que temos que ser os melhores, que não podemos falhar…
Também sei que não foi isso que me ficou gravado, ficou esse grito e alerta de guerra, que o meu coração nunca acompanhou. Esse esforço desumano exigido a uma criança ajudou a cravar esse fosso e esse desespero de quem tenta correr ao lado de quem tem para cima de metro de perna forte.
Agora sim vou-te escutar!

Maria Sá Carneiro

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Ecos


Finalmente chego a casa. Mais um dia, mais uma rodada infernal de mim sem ti, e ti e ti. Só me apetece instalar-me no sofá, afogar-me em calor de lareira, bebida forte, charro leve/intenso, nessa mistura de odores fortes, códigos postais de alívio.
Embaralhada em enredos que não alcanço nenhuma solução possível ou exequível, apenas gostava de não ter perdido a faculdade de chorar. Queria mesmo ser uma dessas tantas que por aí saltitam, de lamento em lamento, de bolso cheio e carteira dourada. Que levitam à nossa volta apenas quando pretendem algo de nós. Essa implacável falta de sentimentos que quase parece que somos portadores de alguma doença contagiosa.

Esse bater de porta de casa alegadamente minha, quase me pára o coração, abala-me a alma, faz-me cair de mim e para mim, nessa ilha isolada rodeada de nada. Assim o tempo foge-me entre as minhas mãos calejadas e gretadas pelo frio. Não me lamento, desabafo perante esta onda crescente que brota em mim, em forma de partida urgente de mim.

No meu sofá gasto anseio que se me apegue o calor da lareira, nesse embalo gravado em mim do teu colo doce, nessas tardes de domingo que nos dedicávamos um ou outro. Sim tenho saudades de nós. Saudades desse abraço que me transmitia paz e segurança.
Saíste para voltar mas…

Partiste assim de um dia para o outro, quando finalmente nos tínhamos começado a apreciar. Nessa descoberta que o tempo tinha passado, nesse sorriso entrelaçado de cumplicidade que se estendia dos cozinhados em viagens ao passado.
Já não me recordo exactamente qual de ti é que me faz mais falta, talvez tu da coragem e frontalidade, que apesar de me criticares quase sempre eu sabia que podia contar contigo.

Algumas coisas sentimos como nossas, pedaços de nós, Sítios mágicos que nos lembram o melhor de nós.

Nem sei o que me faz mais falta…

Aqui sigo sentada nessas recordações.
Maria Sá Carneiro

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

"Eu"/"Tu"

Hoje escrevo para mim e para ti, sim tu que nunca tiveste coragem de dar a cara. A ti que tantas vezes me vieste pedir abrigo, comida e colo. Nas horas e horas que aturei a tua lengalenga, ladainha mole de quem gosta de vomitar em cima do próximo!

Anos de ida e volta, aparecias e desaparecias, sendo certo que não falta gente quando estás na crista da onda. Gostava de te dizer assim alguma coisa que realmente te perturbasse ou te fizesse acender aquela luz, que nós os pobres, (não de espírito seguramente) chamamos de coração.

Anos de quase vinganças planeadas e muitas executadas, cimentadas apenas no ódio da diferença.

Ainda hoje me questiono qual a ilicitude da minha beleza, encarada como uma traição à dita cuja instituição da qual a minha identificação alude, mas que na maioria dos casos nem me belisca.

Um ou outro, outra mesmo… Recordações doces de infância terna em picos de dor alternados com um ou outro sorriso, que ainda hoje diariamente me amparam. Sempre surpreendida com tanta amargura e inveja, quando apenas nunca sequer quiseste conhecer a cor da minha dor. Dizes que virei amarga? Como te enganas…

Até na dor tens a habilidade de a transformar em teu troféu…

Às vezes deito-me com a minha imaginação fértil, e construo essa história de morte que sempre me acompanhou. Penso na cor das lágrimas que irás verter nesse momento oficial de despedida. Concluo no quente da minha sweet com carapuço, magnifica invenção para a alma partida que mesmo aí vais conseguir reverter a teu favor a despedida. Entre palmas e textos, colectas de altos cestinhos que parecem só levar agora 0.14 cêntimos, vais ser a estrela de ti própria, aquela mesma que tudo fez para evitar este desfecho, que já é hábito na família. Também te confesso que me irei estar nas tintas pois pelo menos o caixão irás pagar para inglês ver.

Revolta? Já nem isso sinto, apenas me encanto com quem consigo ajudar, apenas me encanto com tão poucos que me sobram muitos dedos, que continuam sem desculpas, estar assim por estar, apenas por de mim gostarem.

Esse carnaval de desfile já à muito terminou, e quase ninguém tem tempo para apenas dar a mão. De um momento para o outro ficaram ocupados freneticamente.

Sim deliro…Normal! Sempre fui assim desajeitadamente anormal…

Mas sim já falta pouco para esse teu novo momento de glória. Sim sigo sonhando mesmo a preto e brancoJ)


Maria Sá Carneiro

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Saudade!

Anos passam e a saudade cada vez é maior. Cada vez a minha idade se aproxima da tua, quando partiste. Cansada de ausências, enganos, e desta minha ladainha que não me larga. Este murmúrio continuo que se me agarrou à minha alma partida.

Tento e tento lutar, contra mim, contra esta gentalha que por aí saltita. Não pretendo inspirar pena a ninguém, mas acho que já dei tantas vezes a mão!

Tempos de insegurança e tristeza num mundo corroído pelos eternos subornos dourados embrulhados em papel de cunha, seguimos sem rumo. Facto que tenho a certeza não aconteceria contigo.

Queria a essa asa de génio só tua para momentos voar de mim, planar nessa coragem só tua, para sentir essa força que incessantemente busco no mar desde que te fostes. Acordar iluminada por esse olhar intenso que de tão forte, era o suficiente para me fazer corar.

É verdade que me tornei em restos de nada e de tudo, mas viver com gente tão impar, tão forte, de sucesso em sucesso, mesmo tentando imaginar os certos insucessos, versus o meu percurso são apenas reflexos longínquos.

Nesse relvado imenso que tão afincadamente cortas, nesses gestos atléticos de vaidoso e bem cuidado. Admiro a tua tenacidade e persistência, mas amo quando me piscas o olho. Tão importante e amada me fazes sentir!

Nunca foram os presentes mas o teu brilho ao veres as crianças animadas com tantos embrulhos. Esse prazer em dar…

Tantas histórias há para contar, mas palavras para definir essa força, essa coragem, e acima de tudo a esperança de vir a ter uma vida melhor. Essa capacidade sem nome, essa força que se transmitia apenas com um simples olhar, como preciso dela agora nesse rodeio de mim!

Guardo-te com toda a força que me resta, pois continuo ainda a ter uma réstia de sonho que aprendi contigo.

Mico

domingo, 28 de novembro de 2010

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

April In Paris

"sempre que alguém ganha outro tem de perder, sempre que um lado cresce outro fica mais baixo, sempre que algo nasce, algo terá de morrer...para receber livros novos é preciso ter espaço na estante"

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Não desistas!

Adormeceste assim devagar, devagarinho no meu colo. Pareces um bebé assim desprotegido. Tens um ar sereno e tranquilo. Ninguém diz o que é a tua vida. Lutas incessantes contra quase tudo, quando apenas lutas para te manter à tona e não te afogares. Cansado e dividido entre todas essas personagens que transportas dentro de ti, una vilãos e outros heróis. Encarnas nessas personagens no meio da confusão mental que te obrigas a viver para não sentir a dor. Dores de criança de desamores e rejeições que nunca alcançaste ultrapassar. Nunca te deste a oportunidade de parar para pensares, foste-te lançando assim às “feras” num ciclo infernal e vicioso. Ainda tocaste neste e naquele vício, mas nenhum foi tão brutal como o de te magoares a ti próprio. Nada se compara a essa necessidade de escolheres tudo aquilo que te é mais doloroso, mais complexo e mais atribulado. Julgam-te fácil assim como vives nessa velocidade alucinante, julgam-te arrogante e seguro. Se te vissem agora, aninhado no meu colo!

Do nada agitas-te, inquieto e nervoso. Tento dar-te um beijo que te acalme, uma mão que te sossegue. Abres os olhos assustado! Tentas aperceber-te se estás nalguma guerra que à última hora embarcaste sem te dar conta. Esse teu ar desprotegido gela-me a alma e desperta os meus piores receios.
Há tanto tempo que temo que não sejas capaz de não te magoares a ponto de partires. Tantas vezes vejo nos teus olhos pretos esse desespero que sei que um dia não irás conte-lo. Temo que te abandones de vez.

Sussurro-te a lembrança desse jardim mágico onde te abracei pela primeira vez. Lembro-te as gargalhadas os sorrisos de cumplicidade. Transporto-te para o melhor de ti. Esse rapazola que tantas travessuras fazia, com esse ar sério e inocente, que ainda tens quando te chamo a atenção para a tua falta de cuidado contigo próprio.

Finalmente voltas a adormecer em aparente tranquilidade, como eu gostaria de ser capaz de sarar essas feridas em ti!

Não desistas!

Maria Sá Carneiro

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Escolhas Luísa:)


Lu não encontrei a outra música
Beijão
Maria

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

E tu?

Palavras, gestos, abraços e sorrisos! Histórias de encantar, beijos de lareira, mãos entrelaçadas, tantas coisas que ficaram assim pelo metade, por contar, por partilhar. Apenas porque achei que te teria para sempre. Julguei que eu e tu, seriamos sempre inseparáveis. Ainda hoje estou aqui, como que cristalizada pela tua ausência. Sigo praticando todos os gestos indispensáveis a uma existência normal mas despojada de ti. Não é possível traduzir em palavras, já nem em músicas, letras, imagens ou suspiros, a falta que me fazes!
Não sei o que me revolta mais se a tua partida inesperada, se o facto de eu por vezes ainda achar que te oiço chegar. Possivelmente o que mais mexe comigo é não ser capaz de me libertar dessa amarra que me ligou a ti desde que os nossos olhos se cruzaram. Fiquei logo como tua sempre houvesse sido, e tu tomaste-me como tua.
Essa revolta que tantas vezes sinto! Porque me tomaste como tua se essa não era para ser a verdade?
Essas e tantas outras pequenas dúvidas continuam a saltar nos meus desabafos com os amigos de sempre, que já lhes leio nos olhos a dificuldade que já têm em te visualizar, quanto mais a ouvirem as minhas lamúrias tiradas a papel químico das eternas conversas de ti.
Mas o tempo vai-me arrastando pelo menos imune a essa entrega sem nome que vejo em tanta gente que já nem realiza de que cama se está a levantar.
Escolhi ser fiel a mim, ao meu sentido e à minha verdade. Não sou nem mais nem menos do que os outros, apenas não quero sujar a minha alma ao tentar lavar o meu corpo para que ele se machuque e se esqueça da ternura que encontrei no teu colo.
Não tenho mérito nisso, apenas escolhi não me embrulhar para me afogar.
Apesar de tudo isto e muito mais que não sei pintar em linhas, tenho essa paz de poder olhar para trás e não ver manchas.
E tu?

Maria Sá Carneiro

domingo, 14 de novembro de 2010

I Cover The Waterfront

"terrível é não ter nada que esperar"

Cesare Pavese

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cantas Luísa?




Mudar de vida dizia uma grande Amiga que era um bom motivo para escrever umas linhas, aliás Luísa é muito graças a ti e a algumas pessoas que segui escrevendo algumas linhas. Criticadas com maldade por alguns, que pretendem ler “mais “ do que está escrito. Mas essas linhas reflectem apenas momentos do que vejo, sinto nos outros, intuo nas linhas e contra linhas de momentos, e eu, claro!
Tudo o que fazemos tem pedaços de nós, dos outros, do mundo. Há dias que têm luz e dias mais tristes. Escrever também é para mim um bom exercício para a alma se expurgar de dores antigas, caducas, e de dores de sempre, para que essas não fiquem para sempre.
Estou muito grata aos meus amigos/as pelo apoio que me foram dando. De coração.
Mudar de vida é sempre um tema interessante, mas para mudar de vida temos que ter o vento a favor, e as circunstancias. Mudei muitas coisas, mas reconheço a minha incapacidade para ser mais um ser saltitante e reluzente, como vejo por aí aos montes.
Talvez esse “buraco” que tantas vezes absorvo no olhar de gente que se arrasta na vida me prenda para que o meu olhar oscile entre a beleza de verde – mar e esse cinzento agressivo. Essa dúvida que já vi nesses olhares de gente que se vai abandonando, é como um chamamento que guardo de infância, as tais linhas uma maneira de crescer.


Essa Mulher que vi e senti, caminhava assim desprendida do mundo, olhar perdido e preso nas ondas brancas. Acho que procurava consolo nessa espuma branca do rebentamento das ondas. Como ela ousava balançar entre viver e morrer, ainda tão jovem?
Aquela dor esmagou-me o peito, cravou-se na minha alma. Aqueles pés arrastavam-se na calçada, desanimados e austeros. Nenhuma margem de manobra concedia a si própria. Rigidez de educação, excesso de banda desenhada, romances de má qualidade. Uma mescla de anos de infância banhada pelas desavenças familiares levaram-na a cair no engodo de um ridículo galã, atravessando e comprometendo assim a sua juventude, nos braços de tudo aquilo que desde criança, jurara não viver, embalada pelo cheiro do excesso de álcool paterno e discussões gritantes.
Queria puder estender o braço, e tocar-lhe. Interromper esse círculo viciado da falta de um abraço chegado, onde ela pudesse ver alguma esperança, retirando-a desse balançar entre vida/morte. Não se trata de histerismo de “aí que me mato”, trata-se dessa dor mental, agravada pela dor do peito e o descolorido da alma. A falta de força de não ter resistido ao primeiro fado que lhe cantaram, Cansada dessa solidão onde teve que ser pau para toda a colher, desiludida consigo mesma, assim se deixou chegar, ao que sente como um beco sem saída.

Luísa cantas-lhe uma música de encantar?

Maria Sá Carneiro


sábado, 6 de novembro de 2010

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

"She"


Não carece de me justificar seja a quem for, até porque já quase que partiram todos. Podes achar que é um desabafo, uma queixa, uma lamúria, pois a minha lágrima não tem sal que te atinja. Sei disso! Gostas assim à bom/boa “portuga” de apenas…criticar.

Nomes/caricaturas/risos/olhares seja lá o que estampa a tua face/maldade, a esta hora, digo a ti, a ti e sim a ti também, que me estou nas tintas por achares o meu discurso desconexo. Claro que é! Textos…. Dizes tu!

Mas sabes têm alma, têm cor, têm dor. E sim tem sempre uma mão mágica de alguém que me dá colo, me pisca o olho, e que sempre esteve por perto, e estará.

O tempo corre contra/a favor as nossas dores, dores que vão ficando mais longínquas, e dores que me fazem tropeçar, quando o vento frio da realidade me visita de noite sem se fazer anunciar. Aquele imaginar de janela aberta em noite sem luar, onde o vento bufa no meu ouvido todos os meus falhanços e derrotas, tantos que perco a conta, no descontrolo da bulha se acordo e o sacudo, se me deixo embalar por essa dor surda, de saudades de Mãe/Pai/Tio. Tento, esforço-me por ver vitórias/sucessos/alegrias que me arranquem desse sono confuso/difuso onde me perco e afundo.

Dias dizes tu que de mim gostas, momentos que passam.

Sonhos/pesadelos que me vão afastando desse circo social onde as gentes se abanam e sacodem ao ritmo de infernal de sei lá bem o quê.

Essa carapaça que se vai colando a nós, essa irritação de julgamento fácil e impune, onde não alcanço metade de mim, ou do meu reflexo. Não me quero por em bicos de pés, sou de saltos baixos, a minha face ainda ousa corar, de quando em vez. Apenas sei que tu sabes a minha dimensão, quando me dás a mão entrelaçada do meu passado todo.

Sei que estás sempre por aí. Aos outros perdoo de coração o mal que me fizeram carregar, sem que alcançassem o buraco onde me debati para crescer/aprender a sobreviver.

Contigo navego na emoção de digerir as minhas dores, e troca-las por pequenas alegrias.

Não isso não corresponde à minha verdade, não me faço de triste, nem tenho prazer em parecer triste, busco apenas o meu eu.

Assim vou seguindo…

Pelo menos com verdade!

Maria Sá Carneiro



sábado, 30 de outubro de 2010

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Dor!




Os teus olhos expressam esse desespero de órfão, a tua face pálida gela-me a alma. Não sabes como hás-de pedir ajuda, pois já ninguém te dá esse crédito horrendo de morte/vida. Já não tens no teu saco amarelo mais cartões de pontos! O cartão vermelho já está descolorido de tantas vezes to terem chapado na cara. Não sabes o que hás-de fazer nem dizer. Já só queres mais porrada nesse resto de corpo mutilado para calar essa dor que nem tu própria sabes justificar. Lâminas aguçadas fizeste crivar no teu corpo, como se esse sangue ao correr vermelho e lento, te desse novas do teu sofrimento. Esse sangue te expurgasse a alma que não se cala aliada ao que ainda te é possível entender desse pensamento que corre e se atropela. Queres ter a coragem de por fim a esse caminho lento que percorres e obrigas a percorrer. Mas algo ainda te trás à tona dessa fronteira cada vez mais ténue da vida. Se calhar continuas a esperar que ele volte, que a vida ande para trás e voltes a ser essa menina e moça, sentada nessa sala colorida, nesse colo forte e seguro. Ainda ouves as histórias que ele te contava, embala e encantava. Será essa a razão da tua dor?
Serão essas entregas falhadas, de promessas de amor eterno, em que te lançaste nesses leitos frios, que te pesam na consciência?
Tentas descortinar um atalho, um apeadeiro, algo que te traga de volta a essa normalidade de pseudo família, que te critica e censura, tratando-te como um espinho feio e cruel, que a todo o preço querem esconder.
Ninguém está livre de cruzar essa fronteira, de se deixar esmorecer, de lentamente ir-se entregando à verdadeira dor do sangue. Sei que no fundo até os entendes, gentinha que necessita de mostrar harmonia, de se agarrar a essa bandeira apodrecida da famosa instituição família.
Penso e repenso como te hei-de dar a mão, como entendo que é apetecível desistir de lutar, de segurar esse estandarte que não reflecte a realidade.
Amores adiados, amizades interesseiras, e tu e a tua dor!
Dia após dia vais-te afogando…
Se eu ao menos soubesse soletrar o teu nome!
Juro que embarcava contigo!

Maria Sá Carneiro

domingo, 24 de outubro de 2010

sábado, 16 de outubro de 2010

Fio da navalha!

Um estado entre cá e lá. Um impasse. Uma paragem repentina. Um momento em que nos falhamos. Uma travessia atribulada num cruzamento em hora de ponta! Paramos, escutamos e nada ouvimos, para além do zumbido da nossa solidão!

Estás na minha frente, estático! Olhos grandes, pretos, lindos/parados. Mergulhado no teu silêncio interior, olhas-me para além de mim. Tenho sérias dúvidas se me estás a conseguir ver. Olho para esses pontos pretos como suplicando que passes no meu verde, como um apelo fraterno para que vivas. Num pequeno instante de esperança esforço-me para que te foques em mim, tentando assim retirar-te dessa paragem, dessa falência espiritual/humana, fria/dolorosa, distante e sem fim aparente que te coloca assim…Sem nada! Como entendo e alcanço a tua hesitação sincera em não continuar. Não é habitual em ti, não está no teu código, daquilo que sou capaz de equacionar. Em ti acostumei-me a ver um lutador de maratonas de fundo, incansável. Ou seria o meu desejo?


Empurras o teu velho carro de supermercado outrora famoso mas falido. Agarrada a ele impões esse teu ar sempre distinto. Cabelos brancos/imaculados pelos anos, cabelo milimetricamente apanhado e gorduroso. Não sei o que me choca mais, se o teu ar distinto, o teu cabelo gorduroso, ou a tua coragem de a tudo/todos teres virado as costas, para viveres nesse mundo apenas teu. Ou será que a tua tranquilidade, a tua paz, me fazem questionar-me de mim ainda com mais insistência? Ou o meu desejo de me juntar a ti, nesse vida sem nada, mas com tudo aquilo que não consigo encontrar na minha gaiola já gasta da tinta dourada que afinal nem esmalte era?

"Afinal quem sou eu? "


Maria Sá Carneiro

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Silêncio!




Esta palavra acordou gravada/colada a mim. Infiltrou-se na minha pele, tatuou-se na minha alma. Não sei se é o cansaço/desânimo, a tua falta Pai que me deixaste tão cedo, se é mesmo o estado geral de tudo/todos, nos extremos das tias loiras de BW cheias de arrogância e oiro, ou se és tu Mulher!
Mulher que ar tão tristonho! Mulher de hoje e de amanha, carregada com esse peso maior do que tu, com esses “putos” tantas vezes insuportáveis de ranho /ira, que tudo exigem de ti. Esse teu ar com o aro dos óculos partido corta-me o coração. Talvez também veja a minha imagem reflectida!
Essa palavra silêncio não descola de mim. Não quero falar com ninguém, ouvir essa surdina permanente desse telemóvel que não se cala, esses meios altamente electrónicos que nos acabaram com aquela sensação confortável de fim de dia. A toda a hora é hora de lamentos, exigências, pressões e mais que tais!
Massacrada por essas etiquetas que nos atribuem como se fossemos vacas Cornélia dessa pseudo sociedade rota, um nome dá “direito” a uma porcaria de rótulo, com código de barras/críticas. Beta/betinha que pasmam por saber limpar merda. Merda de tempos isso sim!

Queria puder ajudar-te Velho que cruzas a rua com esse ar tão abandonado… Carregas esse saco de compras pesado, onde vendes os teus biscoitos de sempre, na esperança que te sorriam, que te comprem um pedaço de vida, que o tempo te tira com dor e sofrimento. Admiro a tua habilidade/necessidade de inventares tantas histórias para eu te arrematar o fundo do teu pesado saco de vendas caseiras. Sim sei que foste operado, sei da placa que te puseram na perna, mas também sei, como tu sabes, sábado após sábado fingimos não saber, para que te oiça mais uma vez…. Continuo por aqui.

Tanta gente precisa de um olhar, um toque, um carinho, a todos esses queria chegar! Sim sei que me lês e pensas que parvinha a armar-se em boazinha. Achas?
Sabes para onde te mando?
Sim é verdade, silêncio! Parece mal!
Onde fica o nosso pedigree pal? Que maçada!

Desculpa este desalinho. Estou siderada com este silêncio. Essa onda gigantesca que se apoderou de mim, talvez vinda do além, já que por estas bandas não se vislumbra ninguém.

Queria mesmo ajudar-te Mulher! Dar-te a mão nessas noites onde as horas passam e não alcanças sossegar, nem um minuto!
Queria puder comprar como está tão moda os teus sonhos, queria afagar-te com aquilo que sonhas ter/receber, essa ambição que tantas vezes se apossa de ti para esconder a tua verdadeira dor do que não alcanças sossegar, desse desequilíbrio/equilíbrio, que apenas não é mais do que sofrimento.

Sei lá eu!
Silêncio!
Não te esqueças...Que autorizaste estas linhas!:)

Maria Sá Carneiro

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Deixas?

O tempo passa e já não me imagino sem o teu sorriso. Lentamente colei-me à tua pele, viciei-me no teu cheiro, o meu olhar inquieta-se quando não te encontra. Cada dia que passa sem te ver é um sofrimento para mim, circunstâncias da vida não nos permitem esse abraço cada vez que o coração aperta! Prosseguimos esse sonho sentido, desse jardim onde me embalas, onde me debruço sobre o nosso amor pintalgado de verde-mar, de suspiro em suspiro vou-me libertando dessa tensão e pressão que a vida nos impõe cada vez com mais intensidade. Apenas sossego no teu colo doce, onde a nossa música toca esse bater quente e lento. Contigo revisito o melhor do meu passado ido, as gargalhadas e traquinices de miúda carente, que tanto tentava chamar a atenção em busca de um pedaço de mimo.
Contigo sorrio e recupero essa garotice embrulhada em jogos de amor recíprocos pela noite fora. Como sonho e ambiciono recolher em ti nesse mundo só nosso, em que o tempo é apenas a diferença da luz do sol para o brilho da lua, nesse abraço nosso/fechado, nessa onda de tranquilidade que me invade no presente e me dá esperança de um futuro melhor.
Essa esperança em harmonia misturada na tua ternura do teu sorriso aberto dá-me alento para contornar essa luta desigual e contínua, nesse crescimento que me assombra de lembranças tristes.
Bem sabes que os rasgos de genialidade são o reflexo da travessia que percorro na minha escuridão interna que tanto detestas!
Sei que me tomas e me assumes como sou, sempre a sacudir a minha inata tristeza, que é tão minha como o meu nome.
Um dia destes deixas-me escrever umas linhas cinzentas pintalgadas de negro para eu expurgar as minhas dores antigas?
Logo de seguida sigo sonhando para ti!
Prometo!

Maria Sá Carneiro

domingo, 3 de outubro de 2010

Deep Waters

"há sempre algo de ridículo nas emoções da pessoa que se deixou de amar"
Oscar Wilde

sábado, 25 de setembro de 2010

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Momentos!






Vagueio pelas ruas desertas,
Chove torrencialmente e não te vejo.
Os meus olhos anseiam encontrar-te,
Ando de rua em rua em desespero!

Desespero por te ver, tocar e sentir,
Sinto-me mais só e pequena.
Continuo a andar sem direcção certa,
Apenas procuro por ti!

Já não sei passar sem ti,
Habituei-me ao teu colo forte!
Ao teu abraço fechado e quente,
Sim, eu sei amor, são momentos!

Momentos que se arrastam,
E que me vão corroendo a alma.
Só contigo encontrei a paz,
Deixo-me abater pelo cansaço!

Volto sem ti para casa,
Na esperança que o sol nasça rápido,
Mergulho no nosso sofá de sempre,
Deixo-me embalar pelas recordações.

Adormeço num sono agitado,
Sei que vou sonhar de ti!
Na esperança de acordar em ti,
Nesse nosso abraço verde-mar!
Maria

sábado, 18 de setembro de 2010

Parabéns Luísa!



Queria escrever-te palavras bonitas que mereces, temo não ter o talento suficiente que te dê alento para superares esse frio que tantas vezes te percorre a espinha. Sei de cor esse sentimento que te invade vezes de mais. Libertar-te desse suspiro de tempos bons mas longínquos.

Se há alguém que merece sentir um amor incondicional és de facto tu! Admiro a pureza dos teus sentimentos e a maneira simples e bonita como és intrinsecamente fiel a ti própria. Segues assim tranquila, fiel ao teu passado e aos teus “amores”, não cedes ao que se passa à tua volta, às solicitações fáceis, aos amores de verão, aos pedidos e rangeres dos tempos de facílimos modernos.

Encantas com essa voz que te brota do fundo da alma, cantas com um poder e uma força que cada vez que oiço consegue sempre surpreender-me e emocionar-me. Tantas vezes te chamei a atenção para a pseudo necessidade de prosseguires a tua vida, no meio da minha irrazoável argumentação aprendi contigo que só temos que ser fieis a nós, ao nosso coração, e que não adianta correr à volta, pois acabamos sempre por chegar ao mesmo sitio.

Parabéns por seres exactamente assim! Apenas tu e fiel a ti!

Beijo grande

Maria

When I Was Young...

Ticket To Ride

"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida"
Vinicius de Moraes

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

"Beijo"

O tempo corre lento e pastoso sem ti, arrasto-me na necessidade de te voltar a ter. Suspiro por esse abraço quente, que me faz pesar a vida que desperdicei por não querer acreditar que seria capaz de voltar a ser de alguém, na verdadeira acepção da palavra. Amar assim simplesmente, sem ter que dar explicações científicas, justificar o ridículo, contigo voltei a sentir o sabor da palavra confiança, respeito, amizade e cumplicidade.
Tenho saudades desse nosso tempo quente e fraterno, onde há lugar para tropeções na fala meia estrangeirada, onde me perco nesse teu colo/porto seguro, deixando-me embalar, na criança que sempre houve em mim, que finalmente encontrou o seu jardim mágico!

Fecho os olhos que me pesam da hora tardia, apenas sinto o calor ténue do sol que esplendoroso começa a dar um ar da sua graça, iluminando os nossos corpos cansados desse abraço fechado. Navego sobre o doce da minha infância, os meus primeiros grandes amores masculinos ainda de formas familiares, volto a sentir essa necessidade que aquele olhar mágico verde, me desafie com um sorriso aberto e franco, nesse jogo/desafio de apenas manter esse olhar forte. Tarefa gigantesca para a miúda sempre necessitada de um abraço, um sorriso, um mimo. Curioso como carregamos até tão tarde, esse amores fortes/desamores, que apenas resolvemos com um amor puro e fraterno. Passa aquela ânsia corporal de amor carnal com o passar dos anos dando lugar a esse amor completo que nos une nesse abraço fechado, que toda a vida sempre sonhei, idealizei, e ansiei!

Ao longe apesar de os meus olhos cerrados por um cansaço feliz, ainda sinto as gargalhadas dos Primos, os desafios do Tio, os ralhetes da Tia! Essa família que tanto contribuiu para eu saborear parte da infância possível, que hoje finalmente abraço em recordações sorridentes. Contigo aprendi o caminho e a confiança para me permitir ser apenas Maria, e não um ser que se arrasta de desejo em desejo, em paradas de figurantes desarticulados com o brilho da minha alma. De mão entrelaçada entrego-me a ser apenas gente na sombra dessa crítica velada, aos quais habituei a pautar a minha existência entre actos ridículas de esforços sobre-humanos/figuras insanas, que lentamente me pincelavam a alma de cinza escuro, roubando-me força entre aplausos falsos/sorrisos desmaiados, de quem me usava ao sabor daquilo que infelizmente imprudentemente me ofereci, ou melhor, me fui pondo a jeito.

Assim adormeço nesse teu/nosso sorriso tranquilo.
"Mico"
Maria Sá Carneiro

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

"Ninho"

Não sei se nos cruzamos há muito ou pouco tempo, por vezes penso que já nasci em ti, ou questiono-me se vim de dentro de ti. Figuras de sempre embrulhadas em nós, sequiosas de recuperar a pureza do passado, para alcançar o alento de um futuro mais tranquilo.
As tuas gargalhadas sonoras, transportam-me para o brilho de uma infância de mão entrelaçada nesse calor, nesse olhar tranquilo com que brincava ao esconde-esconde, em que me habituei a uma importante lição, perder!

Levas-me assim devagar, entre arrufos e amuos, na busca desse jogo de paciência, onde me faço e construo, na distância de mim, onde me habituo, a não continuar desgraçadamente a fugir de mim. A enfrentar esses fantasmas, uns duros e outros tão genuinamente doces.

Sei que procuras entender-me nesse labirinto onde me viciei em circular, mesmo naquilo em que não alcanço eu própria entender. Acima de tudo sinto a fortaleza daquilo que és capaz de me amar, mesmo quando eu me fecho no meu desespero surdo e mudo, enrolada nessa melancolia que por vezes toca o trágico. Assim me desfiz nos atalhos onde me perdi, mas também sabes que tenho esses tantos outros momentos, em te faço tocar o céu, onde te transporto para esse mundo mágico, onde impera verde-mar.

Nesse jardim banhado pelo mar, onde se respira esse ar doce de puro, nessa maresia emprenhada nos nossos corpos, sei que te dou mimo, essa palavra tão esquecida, ora não fosse o ser humano de hoje, tão forte que não carece de colo. Talvez a tua maior virtude foi aceitar essa criança frágil que não fui capaz de te esconder, que gracejava na ânsia de um colo, um abraço, um minuto de atenção para puder mostrar as suas habilidades.

Vidas apressadas onde não há lugar a esse “ninho” que fomos capazes de criar longe dessa azáfama da correria onde tantas vezes nos acabamos por perder. A certeza que te levo para qualquer lado para onde vá, guarda-a contigo para sempre.

Assim nos vamos conhecendo e descobrindo….

Maria Sá Carneiro

sábado, 7 de agosto de 2010

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Contraluz

(Mensagem Especial de António Feio 1954-2010)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Viagens!

Cada dia que passa vou-me esvaindo em mim. Desilusões as que provoco, e as minhas. Ainda não entendi quais são as que me ferem mais. Cansada dessa critica implícita, velada, ou talvez o problema esteja mesmo é em mim. Desses dias que saltito de exame em exame, desses sucessos que no fim das contas, nada mais são do que insucessos histéricos. Tacadas sempre altas demais, previsões e derrocadas interiores que no fundo ninguém quer saber. No fim cada um vai seguindo o seu caminho após de se ter abastecido com o que lhe fazia falta. A alegria é mal entendida, o rebentar dessa pressão que te vai espezinhando em ti própria. Não mereces um sorriso de ternura mas sim de censura, pressinto que às vezes bastaria um beijo e um sorriso para afagar a alma dorida. Assim vais te sentindo encurralada para dentro de ti, a idade em que irias vencer já muito que já a viraste, as façanhas de coragem já não rezam para a história. E esse aperto no peito cada vez te sufoca mais. Escolhes estas linhas para te abraçares, para fluíres de ti para ti, mas nem isso devias fazer, estás a expor-te demais, não se escreve em tons de preto e cinzento! Não sei pintar a cores, isso é um grande handicap! Assim cada vez te vais sentindo mais à margem, como um náufrago de ti mesma, com uma diferença, estás a ficar chata, e pesada, nesse mundo pseudo cor-de-rosa, és um queixume incómodo. Já nem os miúdos te acham piada pois cresceram muito espertos e cientes das suas maravilhosas razões e sabedoria a pacotes. Assim te sentes impiedosamente a mais, nesse mundo onde já eras. Embrulhada nestas confusões/desilusões, ainda teimas em escrever, o que certamente irá ser mais um motivo de discórdia! O tempo arrasta-se e tu lá vais prosseguindo com um sufoco /aperto no peito, a noite pesa-te, essa dor rouba-te o sono, agarrada a essa almofada de sempre, temes o pior. Não alcanças a luz de qualquer futuro que julgavas merecer, um abraço que tanto foi objecto dos teus sonhos e tanto te prometeram. Acabas sempre por te deixar embalar, quando já devias saber que esse colo roubado na altura cera, não é recuperável Assim como tu!
Rende-te à tua solidão e não lutes mais!
Entrega-te a esse estado que a tua vez já passou, perdeste esse comboio, como algum sábio te avisou, quando entraste no apeadeiro errado…
Maria Sá Carneiro

sábado, 24 de julho de 2010

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Medos!

Estranhas-me porque esperas que eu seja assim como tu. Vais medindo assim pelo teu metro, às vezes acho ternura por o saber tão genuíno, às vezes revolto-me por não veres as minhas cores laranja/preto, misturado com mar, sal, verde, azul, cinzento. Nessa diferença deveria ser possível a aproximação, a compreensão, e não um muro de silêncio, como uma recusa implícita de a diferença ser um ponto a desfavor.
Vivi anos a fio a tentar ser diferente, a tentar ser uma excepção a esse modelo que interiorizamos de crianças, puras e abertas ao que nos dizem, e na revolta do que vemos fazer nesse dúbio triangulo pais/filhos.
Como muitas vezes brinco uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa!
Se nos fosse possível ter a consciência de que educar/formar é uma tarefa gigantesca, não sentiríamos essa revolta da diferença do que é possível. Essa frase do “possível” sempre provocou em mim uma irritação invencível ao meu bom senso, assim como a palavra calma.
A idade vai nos “transformando” ou fazendo-nos render a esse tal de “possível”, a vida vai nos cortando a poesia, a esperança nesse banho de realidade impossível de não ver. Contudo guardo sempre uma reserva de verde /mar, desse voo mágico de mão entrelaçada que me coloriu em criança!


Sonhei de nós nesse sítio só nosso, onde tantas vezes cozinhamos pratos/tapas, entre uma taça de champanhe e a minha habitual mini! Nessa diferença de “nível” de exigência de grupos de consumo, sempre fomos atinando um com o outro. Magia de banho de por do sol, inspiração de amores incondicionais trouxeram-me até aqui…

Aqui neste sítio criado a partir do melhor de nós aguardo-te com o peluche de sempre, que outrora eu classificaria de piroso. Embalada nele vou sorrindo à tua espera, sei que irás sorrir quando os teus olhos nos alcançarem.

Sonho que me perco, me desvio e me descontrolo! Acordada no silêncio da noite escura e pesada! Coração com um batimento descompassado, aperto no peito, fantasmas antigos. Arrepiada estendo timidamente a mão na incerteza que estarás a meu lado conforme o meu maior desejo. É tão premente encontrar-te nesse leito grande demais para os meus medos, que chego a temer o pior!
A minha mão ainda trémula encontra-te num abraço fechado e quente, como eu precisava dessa segurança doce, assim vou crescendo e vencendo essa fronteira que por vezes me enrolava numa tristeza antiga de mais para ser consciente.
Assim me vou rendendo ao teu colo!
Maria Sá Carneiro

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Deixa!

Procuro uma brecha de luz nessa escuridão! Anseio que amanheça! Já nem me preocupo que não entendas a minha dor, que não alcances o meu buraco preto/cinza, que se me tatuou na alma desde bebé! Quero lá saber que aches que só me lamento no meu choro, que tudo pode ser simples, porque simplesmente eu não sou essa. Procuro a verdade, a simplicidade é uma característica inata. Como te posso fazer entender a minha solidão de sempre, quando me recusas um beijo, só por não entender que te maces quando não faço o que achas melhor para mim!
Não é simples esse entendimento que primeiro estou eu! Porque jamais o sentirei assim, tão desgarrado de sacrifícios, isolado de vícios, apenas o melhor para mim, O que me move é o melhor de mim, o melhor que tenho para dar, alicerçado na verdade, na generosidade, de ainda me puder dar ao luxo, de viver com verdade. Nesse desvio permanente que nos rodeia, torneia, e tenta dobrar para o facilitismo instalado, ao qual me recuso a vender!
Queria poupar-te ao pior de mim, mas é como uma promoção, vem incluído no pacote, e por mais que tente não consigo afasta-lo. Tentei colori-lo, pintalga-lo com uma ou outra piada, mas às vezes não consigo disfarçar.
Custa-me escrever estas linhas, queria proferir declarações bonitas, com cheiro a maresia, embaladas pela limpidez da água e a força do mar! As lágrimas escapam-se assim insurrectas, à minha postura irreverente e despreocupada, de guerreira insaciável por uma briga pela verdade, nesse balanço de podridão, desse mundo prepotente, que só se move pelo sucesso pessoal, pela carreira, mesmo que seja à custa do próximo. Eu não sou essa lutadora incasável, sou uma pessoa simples, de causas justas, desprotegida pelas partidas antes do tempo, e pelas más escolhas de figurantes vilões!
Queria ser feliz por ti e por mim, para que me sentisses mais “normal”, mais sei lá o quê!
Queria sentir esse direito ao queixume moribundo tão em voga por aí, queria… Sabes? Queria apenas ser pacificamente calma, ter essa habilidade de não me destacar de nada nem de ninguém, ser mais uma entre tantos. Aprender a escolher esse caminho aparentemente mais fácil…
Queria abrir-te a porta da minha alma, revisitar contigo esses recantos mais ou menos sinuosos em mim, para que não te restassem dúvidas, que não tento vender-te o software sem antídoto, que não sei ser assim como preferes. Mas que vivo pela verdade, doía ela a quem doer.
Confuso? Também acho!
Deixa…o sol acaba sempre por nascer…
Maria Sá Carneiro

terça-feira, 6 de julho de 2010

Chega!

Hoje

Perdida nesse mundo de betão, rua após rua, vagueias assim como desgarrada de ti. Peso a mais, barriga grande, peito descaído, uma sombra do que já foste! Olhas perdidamente para baixo, falta-te fôlego para mirar o futuro. Já nem sequer te questionas qual foi o primeiro cruzamento que viraste na direcção errada. Será que já não te recordas?
Terá sido aquele mostro que te desvirtuou noite após noite, com a promessa de um casamento eterno, casamento esse que já tinha com outra. Aquele sedutor de meia tigela que à época te parecia tão encantador e charmoso. Fizeste ouvidos moucos daqueles conselhos sábios de teus Pais.
Nem sequer sabes se o que te doeu mais foi as mentiras, ou aquele aborto que ele te obrigou a fazer, como ele te manipulou…
Acho que é essa dor que ainda te vai matando aos poucos, um bocadinho todos os dias do resto da tua vida.
Assim te arrastas de casa para o trabalho, pesadamente/penosamente. Essa solidão que te vai comendo, já não tens corpo que atraía nenhum moscardo, dinheiro também não, amigos esses foram-se na inocência da tua verdade!


Ontem

Acordei feliz! Finalmente tinha chegado o dia tão esperado que iria mudar a minha vida. Confiante e bonita, cuidada/aperaltada, só para ti. Três horas ao anoitecer para escolher a roupa mais apropriada para o grande dia!
Como estava feliz por me ir entregar a ti, nesse fim-de-semana tão cuidadosamente preparado. Sítio lindo escolhido por ti com tanto amor e carinho, para finalmente nos amarmos, sem barreiras, sem horas.


Amanhã

Tomei finalmente a decisão que adio há anos demais! Chega de sofrer, já não me aguento mais nesse ser vegetativo em que me tornei. Já não caibo em nenhum espelho, deixei de poder olhar-me nos olhos. Deixei de ser gente…
Assim parto sem sequer conseguir que te sintas culpado de todo o mal que nos fizeste! A mim e ao meu bebé!
Essa criança que eu poderia tomar nos meus braços, e o resto de menina que eu tinha em mim.
Chega!
Maria Sá Carneiro

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O Cão das Lágrimas

"não há diferença na dor"
José Saramago

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Diferenças!

Diferenças/ângulos, pontos de vista/opiniões, censuras/julgamentos, que interessa? O que conta realmente é o que sinto por ti aqui e agora, ontem/hoje, amanha/sempre… Opiniões há sempre, contrárias, à boleia, para armar, para fingir… Estes novos mundos virtuais ou não transportam as pessoas para um mundo de fantasia fácil e muitas vezes oportunista. Constroem-se páginas cheias de cor, de espectáculo, e tantas vezes tudo espremido dá em quase nada, para não dizer nada. Parece assim, sabes? Que o mundo da malta se transformou todo em tipo malta, tudo fixe, mas será real? Onde está aquele ombro seguro, aquelas cartas que chegavam pelo correio, cobertas de palavras de verdade, confessadas pelo próprio punho com cunho de verdade. Começou pelas mensagens de telemóvel, frases arrojadas e fáceis, de quem quase deixou de ter cara, apenas teclas. De onde teclas???

Eu já embalei tantas vezes nesse facilitismo que quando te olho nos olhos até me sinto mesquinha.
Que saudades dos tempos onde tudo era mais longe e mais verdadeiro. Quero parar e falar para ti. Assim olhos nos olhos. Contar-te a minha história, docemente ao por do sol, na praia de sempre onde sonhei ter a força do mar, a cor laranja do sol ao deitar-se, cravada na alma e no coração, de passagem de testemunhos que sempre julguei merecer. Sei que às vezes preferes saltar as minhas partes mais tristes, sei que não gostas de me ver sofrer, mas crescer, vencer a dor, é isso mesmo, enterrar os fantasmas, ou lavando a alma lentamente, na esperança de ser apenas entendido.

Sei que não entendes os meus momentos mais tristes, o meu desespero, o meu constante ranger de dentes enquanto durmo, que te perturba, e que realmente pensas que nada me falta para ser feliz, mas eu não encontro o botão do off do passado. Não consigo virar assim a página de repente, porque já me deixaram vezes demais, já me magoei outras tantas.

Apenas o tempo, a paciência, e a força de verde-mar me poderá um dia fazer escrever de uma vez por todas o meu virar da página.
E o teu sorriso aberto!
Maria Sá Carneiro

quinta-feira, 10 de junho de 2010

terça-feira, 8 de junho de 2010

“Bastidores”

Atordoada no meio de tantas decisões para tomar, penso em ti! Nos conselhos que me darias, nesse olhar calmo e sereno, que tantas vezes me ajudou.
Como a minha vida se tornou numa antecâmara, nuns bastidores, numa zona de passagem, onde entra e sai gente. Gente que procura ajuda, amor, desabafar etc. e tal.
Tantas vezes pensei em pensar primeiro em mim, mas é como deixar de fumar… Essa decisão heróica que tomamos a cada inicio do ano, para o ano. Aquele famoso catálogo taxativo, que com glória projectamos fazer no ano que há-de entrar, como se fossemos imortais!
A vida vai correndo indiferente a tudo que ainda não conseguimos fazer, sem nos darmos conta que passou tempo demais. E passou esse tempo em que devíamos ter virado naquele cruzamento em que iríamos cuidar melhor de nós. Melhoramos a embalagem, está mais fina, mais cuidado, enfim mais leve, mesmo mais prêt-a-porter!
Faltou todo o resto, e é nesse resto, nessa ilha de solidão que deambulamos, sem conseguir sarar a ferida ou sequer estancar o sangue. Acabamos por ir cedendo aqui e acolá em prol de um, de uma ou de todos.
Dirás que conversa tonta eu tenho, que tanta gente está pior do que eu? E não haverá tanta gente que já se pôs melhor por mim? E esses/essas não contam?
Há dias que se arrastam, dias compridos de nós, onde ficamos assim como que presos e estacionados sem força para avançar, com a esperança humilhada de termos esperado compreensão de outrem.
Sim claro, dias melhores, dias piores, todos temos! Mas há alturas em que me fazes falta demais, em que só surgem fogos, sim alguns mal alimentados por mim… E depois? Foi o que fui capaz de alcançar!
Sabes é esse julgamento fácil que me desanima de mim, quando esperam tudo de ti, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Bastidores de nós mesmo, palcos errados mas the show must go on!
Maria Sá Carneiro

sábado, 5 de junho de 2010

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Apenas eu!


Ter saudades é como uma pequena comichão na alma, um arrepio no coração, um peso adicional nas costas já cansadas da correria. Não é gostar de ver, é precisar de ver, sentir, tocar, aspirar esse cheiro próprio dos nossos amores. As minhas Filhas tocam-me sempre, quando me dizem cheiras bem, cheiras a Mãe!
Amar é querer ver o outro feliz, nem que isso implique a nossa tristeza, ou o nosso afastamento. É desejar que quem está inevitavelmente condenado a morrer por doença, parta depressa, para não sofrer mais. É tanta coisa amar realmente alguém, e no fundo apenas pequenos momentos, um beijo, um abraço, um olhar, uma festa ou um mergulho em verde-mar.
Ao longo da vida vamos perdendo pessoas importantes e que amamos muito, é uma tarefa dura, aprender a viver sem eles e para eles.
Gosto de escrever, alivia as minhas dores e organiza-me o pensamento, se é que isso é possível! Apesar de gostar de publicar, estranho algumas reacções de quem julga que entende do que falo e de quem falo. Às vezes nem eu sei bem do que falo ou de quem falo, que importa isso? Não ofendo ninguém!
Não escolhi ser triste, não suporto é meias verdades, ou mentiras, assim vou fazendo este exercício de pensar, pensar e pensar.
Procuro a minha essência, que sei ter sido adulterada por um péssimo casamento, com alguém mal formado, tinha eu apenas dezoito anos. Assim condicionei uma boa parte da minha vida, tendo claro duas filhas que amo muito.
Não procuro que me entendam ou me consolem, procuro por mim, estranho-me muitas vezes, sendo essa estranheza muitas vezes pintalgada no meu escrever. Tem muitas vezes cor de verde-mar, esperança, como tem dor, cinzento, preto. Nem sempre escrevo de mim, mas sempre para mim, sendo certo que tem sempre pedaços da minha alma. Quer se goste ou não!
A razão de eu escrever estas linhas foi um comentário no blog, a falar de compaixão, por mim mesma, fiquei arrepiada, não me considero nenhuma desgraçada, apenas alguém que não quer cair na sua própria desgraça. Tanta gente tem uma vida mil vezes pior do que a minha, não me queixo, reflicto apenas.
Algumas pessoas muito simpáticas fazem o favor de me ir lendo…O que me também sem margem para dúvida me dá alento para continuar.
Mas compaixão?
Jamais!
Sei bem quem sou e o que procuro!
E com quem posso contar.
Maria Sá Carneiro

domingo, 30 de maio de 2010

Palavras...

Vagueio por esses corredores do centro comercial, os meus olhos vêem famílias “inteiras”, aparentemente normais, ou seja, supostamente felizes, como alguém muito especial me disse uma vez, é isso que os seus olhos querem ver. Eu acrescento precisam de ver.
Nessa necessidade interior e exterior que se me entranhou de trabalhar, no fim da noite percorro mais uma vez esse caminho até ao carro. Não sei de mim faz tempo…
Parece ser tão fácil viver nessa normalidade, de vida das tantas às tantas, com dias e horas certas, para viver de verão a inverno. Encanto-me sempre com esses casais já de idade, que de mão dada se levam um ao outro. Afinal não procuramos todos esse tão falado amor incondicional dos filmes das tardes lentas de domingo.
Esse amor que não tem distancia, barreiras, para o melhor e para o pior. Repetimos modelos que interiorizamos da nossa infância, ou fugimos deles a sete pés, mas de um jeito ou outro se não pararmos para pensar, seremos prisioneiros deles, sempre!
Admiro-me com essa critica sempre pronta a sair, esses julgamentos de entendidos/as, que sabem sempre o melhor para nós. Vivemos afinal num mundo de especialistas. A crítica é e será sempre construtiva, não é a essa que me refiro, falo da paleio fácil, de quem apenas nos viu algumas vezes passar, e tudo parece saber sobre nós.
A minha dúvida balança se por acaso as pessoas fazem alguma ideia do que às vezes magoam o próximo? Tenho algumas palavras e frases que se me ficaram gravadas, como se de tatuagens se tratassem, “vai passear”, “beta”, “mal-educada”, “mimada”, “achas que és capaz”, “escolhes ser triste”…etc. etc. etc.
Somos um mistério até para nós próprios demasiadas vezes, há coisas que nos magoam sem que haja ou justificação para isso pela pessoa que as emite, ou por serem mentira. Provavelmente tem apenas a ver com o “golpe” que nos é dado quando estamos a dar o que temos, sem nada querer ou pedir em troca.
Chegou a hora de parar de procurar a razão que me roubou essa alegria que tantas vezes me visitava e era tão contagiante, e aceitar que o tempo passa, que critiquem, mas que saiam da frente, porque aqui vem gente.
Gente que vive com verdade, e que nunca irá desistir dela a troco de coisas fáceis!
Escrevo o que imagino, o que vivo, o que sinto nas pessoas que gosto, e o que vislumbro e sinto por aí.
Quem és tu para me julgar?
Maria Sá Carneiro

Queria...

Queria ter para te contar,
Que já não choro por ti.
Queria dizer-te que sou feliz,
Que apenas és uma miragem.

Fazes parte de um passado,
Que vivo no presente /futuro.
Bem longe da nossa história,
Que vivo noutro e feliz.

Mas não posso contar-te isso porque isso seria mentira, assim sendo conto-te que me sinto mais verdadeira e mais humana do que tu, acima de tudo de tudo não “emprestei” o meu corpo e a minha alma a ninguém, não me tornei num produto de consumo descartável, em troca de ficar bem nessas festas de meia-idade, em que “elas e eles” de braço dado, posam para a fotografia. Não continuo a ser eu de cima baixo, apesar de mil e um conselhos de partir para a frente, com esse rumo da nossa actual sociedade, continuo a ter em mim essa Menina que guardo intacta no meu coração, e que uma vez na vida foi tua!

Assim te vou contando,
Que vivo de bem comigo.
Sigo com a minha vida,
Já sem desesperar por ti.

Não será a minha vida,
Uma paragem de comboios.
Com entradas e saídas,
De gente sem verdade.

Sigo de bem comigo na minha verdade, na minha essência de mulher, prossigo o meu caminho, entre a melodia do mar, o abraço fechado que um dia foi teu.
Sem lágrimas!
Este texto dedico à minha amiga Luísa que tem a coragem de viver com verdade de alma, coração e pensamento, que eu muito admiro!
Maria Sá Carneiro

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Espera!

Desde sempre soube que era diferente! Senti-me desde que me lembro deslocada e estranha, como se fosse uma bóia laranja, numa imensidão de mar azul coberto de carneiros, que dançavam uma música inaudível para mim, ao sabor de um vento que nunca me fustigou. Alguma espuma branca e salgada por vezes cobria-me, tentando assim embrulhar-me e tomar-me como parte desse mar lindo e imenso.
Mas aquela resistência crescente, vinda do meu fundo, sempre se revoltou e rebeliou, roubando-me assim bruscamente dessa suposta normalidade, nem sempre pacifica mas quase sempre uniforme.
Não sei se viciaram a minha essência ou envenenaram o meu coração, ou ainda pior espartilharam a minha alma.
Mas esperei calmamente o dia em que me viriam buscar, para me isolarem de vez, dessa normalidade e pluralidade, a que atribuíram o nome de conjunto.
Não fiquei surpreendida no dia que conforme eles lhe chamam, me internaram, mas bem vistas as coisas, enterraram-me viva, num bloco asséptico, cinzento e incolor. Nesse quarto sem saída, almofadado e protegido de mim própria, sem nada de útil que me possa a ajudar a fazer aquilo que deveria ter feito antes de me arrastar até aqui. Foi falha minha, falta de coragem, réstia de esperança, ausência de determinação, porque eu sabia que jamais alcançaria os padrões deles de normalidade.
A determinada altura fiz um significativo esforço para me abeirar dessa realidade, misturando-me no vosso meio, esculpindo na minha cara esse sorriso parvo, ou ao deixar descair os ombros, para ser assim como vós, mole! Na sincera esperança de não ter que me maltratar mais, não sentir essa necessidade premente de me cortar para me descortinar no reflexo do meu próprio sangue, para sossegar o chamamento da solidão do meu coração, desse pulsar na correria desaustinada de um pouco de afecto. Sonhei parar este vulcão sempre à espreita que me tomassem no colo e me embalassem noutra história que não essa, à sombra do arco-íris da alma.
No meio dos meus dois irmãos eu sempre fui uma carta fora do baralho.
Não tenho o direito de os censurar, a responsabilidade é minha, devia ter alterado o meu previsível destino.
Placidamente como embrulho de natal de menina bem comportada, por fora, arrasto-me como se eles conseguissem me drogar, por dentro engulo-me de tanto desespero.
Aguardo…sempre…para sempre…
Maria Sá Carneiro

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Pensamentos soltos!

Caminho sem saber para onde, só consigo lembrar do brilho das águas do rio encadeado no teu sorriso aberto e bonito! Não sei se consigo entender nestes dias em que me sinto mais só e perdida da minha essência, o porquê de me amares tanto! Tenho medo que amanha acordes sem me falar, sem me queres ver! Não sei se cresça de vez para ser essa mulher completa que te faria crescer nessas tuas pequenas/grandes clivagens onde te perdes do fundamental, onde parece que te embrulhas no teu desejo quase que infantil, de uma birra anunciada por uma contrariedade, que muitas vezes só tu vês!
Queria essa paz e descanso que todos me aconselham mas que muito poucos colaboram, queria valer apenas pela cor da minha alma, não queria valer porque os outros queriam conseguir tanto com tão pouco, apenas não entendem a razão de eu o ter que fazer.
Sim está um pouco confuso, mas não tenho nenhuma obrigação de ser sempre eu a esclarecer, muito menos o que não consigo alcançar em ti.
Sempre me assustou essas personagens que de repente se colam à tua cor com a admiração estampada na cara, até me sinto bicho. Esses amores desmedidos, ou compaixões como tivéssemos a cabeça a prémio, vê esta imagem comigo!
Imagina-te no lugar de um galgo esguio num dia quente de verão, esganado de sede, a cortar a meta quase com a sua própria vida, para ouvir uma imensidão de aplausos, sem que depois ninguém lhe vá matar a sede!
Essas incongruências de hoje, nos amores furtivos de ontem, como se nunca tivesses existido antes, ou como amanha já fosses lixo. Essas admirações ou esse plágio da tua essência de quem só quer boleia para o seu próprio protagonismo, deixando-te assim a esvair-te em sede, de colo, de um beijo ou de um abraço fechado.
Promessas de sempre para sempre, reencontros com sede de palmas, anunciados com pompa e circunstância, para depois tu, essa…Passares a ser …Apenas mais uma…
Claro que acredito em ti, não confundas as cartas, apenas duvido de mim, do meu enquadramento nesse círculo que rodopia mais depressa do que o meu pensamento se processa.
Pensamentos soltos…saudades tuas.
Maria Sá Carneiro

sábado, 22 de maio de 2010

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Caminho!

Vim para te falar de verde-mar. Sim do nosso verde-mar! Essa mistura doce/salgada em que nos embrulhamos nesse abraço quente/frio onde nos vamos descobrindo. Sei que o teu maior desejo é ver-me feliz, se eu te conseguisse desenhar como isso é estranho para mim, vá não te zangues já escuta-me. Sente o fluir do meu pensamento, agarra a cor da minha alma, plana comigo nessas linhas em nos construo. Sei que sou maçadora por questionar-me tanto, por pensar tanto, mas pelo menos não vivo para lamúrias lentas e cinzentas. No meio de alguns arrufos que nem se parecem connosco, tenho a certeza que o teu desejo de me ver feliz, é tão forte como o meu de te fazer crescer naquilo que considero o abraço de almas coloridas e pintalgadas de verde-mar. Não te estou a julgar, nem a criticar tão pouco, apenas ambiciono que voes comigo e te deixes embalar nessa dança colorida onde o sol se põe e a lua nasce. Preciso que escutes de mão entrelaçada na minha a esse murmúrio lento de quem realmente ama, e não teme sofrer alguns dissabores, em troca dessa entrega repleta de estrelas e cometas.
É interessante esse conhecimento gratuito que tanta gente tem de realmente conhecer o “outro”, apenas de o ver passar…
Tantos anos levamos para nos apercebermos de quem é quem, de aprender a distinguir a maldade da bondade, o gratuito do ocasional, dessas tantas atitudes quer por vezes parecem gestos magnânimos, e tantas vezes são apenas gestos mesquinhos de se fazerem sobressair apenas por não terem a coragem de assumir que o que realmente pretendem é protagonismo.
E tentam assim com um jeito de entendidos comentarem aquilo que ou só querem para si, ou apenas invejam.
Sei que te choca a minha lucidez e consciência da tristeza que me assombra cada vez que me distancio de nós, cada vez que me visitam os pesadelos que transporto em mim desde criança, e que me consomem como eu apenas fosse um fósforo queimado e abandonado na berma do passeio. Mas ter essa consciência não é negar ao direito de ser feliz, mas apenas lutar para entender o mais íntimo que se afoga na minha alma quando não estou no teu colo seguro.
Sei que muito se chocam e até se atrevem a achar que escolho ser infeliz, mas a verdade não é essa, apenas me recuso a andar em carreiros onde me sinto pouco gente.
A ti e por ti continuarei nesse caminho da verdade onde sei que cada vez que te reencontro mergulho nessa imensidão verde-mar.
Maria Sá Carneiro

terça-feira, 18 de maio de 2010

"gente"

Procuro por ti dentro de mim, queria encontrar-te de qualquer jeito, paraliso quando avisto um carro da mesma marca que o teu! Sinto-me perdida e abandonada sem te escutar. Apenas queria notícias boas ou más. Saber de ti. Se estás bem… Tantas juras fiz de mim para mim, que jamais voltaria a amar assim. Perdidamente!
Perdidamente ao ponto de não conseguir rir, comer, passear, apenas fico parada no mesmo sítio que me deixaste. Aquela despedida que era por horas, horas compensadoras de sono, em que acordei nesse dia triste e cinzento onde nós já não estávamos juntos. Não consigo entender porque não tiveste sequer a coragem de te despedir de nós. Tantos símbolos que construímos intemporais julgava eu. Tanta promessa que nunca faríamos um ao outro essas mesmas histórias que revisitamos nas noites, que nos dedicamos um ao outro. Sou sincera acreditei que esse abandono não iria voltar a viver. Que havia um laço de união acima de tudo e de todos, sim sei que disse que não voltava a escrever, por estar farta de julgamentos pela rama, de gente que se julga mais do que eu, e que se deita a adivinhar a cor da minha alma, apenas porque amo escrever, seja do que for. Mas também alguém que muito me tem incentivado a escrever convenceu-me, que se lixem esses de má fé que lêem o que não escrevo!
Apenas preciso de um espaço em que possa escrever o que sinto, os meus medos e as minhas saudades. Tanta história escutada aqui e acolá, tanto desabafo, também fazem de mim alguém que necessita de um espaço próprio.
Também as minhas alegrias e os meus progressos, tantas linhas que afinal também se destinam a fazer de mim, um ser humano mais completo.
Amar e sofrer são muitas vezes insociáveis, mas o que procurei em ti além do amor, foi a amizade, a cumplicidade e esse colo embrulhado num abraço fechado em que devagar tantas vezes adormeci em nos!
Maria Sá Carneiro

domingo, 16 de maio de 2010

A minha Chica!

Estava a falar com o Peter de músicas que fazem lembrar pessoas e memórias e lembrei-me automaticamente desta música... :) Vai ser sempre uma das que jamais vou esquecer. Lembro-me como se fosse hoje que, durante as nossas viagens, me cantavas esta música abrindo e fechando os braços, gesticulando, com os olhos verdes ...brilhantes, como se a voz viesse de todo o teu corpo.. olhavas para mim a cantar e até ficava meia constrangida por causa da letra, nem sabia bem como reagir, sorria e cantava baixinho para mim.. Adorava quando a cantavas, adorava ver a sinceridade com que dizias aquelas palavras, a facilidade com que saiam. Sei que sempre foi um momento que me fez pensar em ti e crescer e que dia após dia me faz perceber o que significa o teu amor por mim.. És uma pessoa que respeito e admiro muito, Mãe. Orgulho-me tanto de ti! Nunca algum dia alguém vai cantar esta música como tu cantavas para mim a trezentos à hora e a segurar no volante com os joelhos! Era pequenina mas lembro-me disso muitas vezes assim como me lembro de ir a dormir atrás no banco deitada a dormir e de sentir a tua mão a segurar-me quando tinhas de travar mais bruscamente.. Pudesse toda a gente perceber o que é amar como tu, pudesse toda a gente ter um dedo mindinho disso como eu tenho! Obrigado por me ensinares tanto e por cuidares de mim como sempre cuidaste, sou quem sou só e apenas graças a ti e orgulho-me ainda mais disso. Este amor e esta segurança só tu me deste a conhecer e sempre foi e será uma das melhores coisas que já senti e aprendi.
"E é amar-te assim perdidamente"

Chica Sá Carneiro

terça-feira, 11 de maio de 2010

Um dia!

Procuro algum equilíbrio nessa solidão que se abate em mim, não por mim mas por aqueles que tenho de cuidar. Curiosa a vida dos dias de hoje, em que és mesmo “alguém” quando demonstras ter, mesmo que só tenhas objectos, e sejas vazio de conteúdo humano. És procurado para eventos, esse termo moderno, que nada significa, mas que leva as gentes ao rubro. O tempo esgota-se por entre os teus dedos, sem que nada possas fazer para o travar. Sentes-te assim demodé mediante tanto blusão xpto de couro, não de napa como aquele usado que guardas no roupeiro. Como se tivesses sido uma grande esperança da selecção errada…
O mais curioso é que essa ilha “solidão” é aquela em que melhor te sentes, depois de uma vida inteira em que representaste o papel de bobo da corte. Esse vazio de tanto esforço no sorriso forçado e amarelo, dos dentes queimados pelo fumo, das noites de insónias e amargura, no pesadelo constante da saudade dos que partiram. Rodeado de gente ainda te dói mais a alma partida, pelo tempo e pelos outros, como estivesses obrigado a agradar àqueles que no fundo nunca te encaixaram, quer pela tua coragem de ser como és, quer pela força com que tocaste a vida.
Interessante seria pensarem se és assim porque é essa a tua essência ou por que a vida e as suas adversidades te foram transformando. Tanta gente que olha e não vê, fala e não escuta, tanta cara sofrida passa na rua, e ninguém sequer os avista.
Assim segues correndo em frente, nessa ilha só tua, em que te vais fechado como uma ostra, sempre que alguém ousa espreitar-te. Segues somando dor, engolindo essa lágrima teimosa com a qual tantas vezes te deparas nesses semáforos vermelhos e túneis obscuros por onde circulas. Lentamente vais-te convencendo que as tuas escolhas não foram as melhores, mas que não implicavam tanta solidão, e tão pouca solidariedade.
Mas firme nas tuas convicções e afectos, continuas fiel ao melhor de ti, essa criança preterida perante tantos e tanta coisa, segue contigo, num abraço fechado na procura da paz e da luz.
Um dia….
Maria Sá Carneiro

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Colina!

Nunca entendo sequer a origem do meu nome, quanto mais a razão da minha existência! Sei desde sempre que a essa que meus pais chamaram de Diana teria os dias contados! Esta foi a minha certeza de sempre.
Nunca consegui sentir aquilo que me queriam obrigar a sentir, felicidade. Como se pode exigir a alguém que seja feliz, sem lhe saber ler a alma, ou escutar o uivo da dor de abandono de colo em forma de leite materno. Posso parecer histérica pouco me importa, na realidade estou-me nas tintas para todos vós. Quando leram estas linhas espero que no mínimo se sintam pequenos como me fizeram sentir todo o tempo que me fizeram passar com vocês, nesse falso embrulho doirado, a quem pomposamente davam o nome de família, nas festas em que me “mostravam” por aí.


Subo essa colina que sei sem retorno, avisto-te ao longe, sentado numa pedra grande que te faz parecer um pequeno grão, que basta sacudir do olho. Velho assim sentado, mas de postura escorreita, carregado de dignidade, que tanto procurei toda a vida. Serás mesmo real? Será que me esperas?
Sempre te procurei com uma avidez, que me salvaria de partir!
Fico embaraçada perante a tua imagem de fortaleza, pela primeira vez lamento ter partido embrulhada em tanto sangue daquelas balas, que me libertaram desse sofrimento que não consegui superar. Sempre ouvi dizer que partir sem viagem marcada era cobardia, mas sempre o senti como um acto de lucidez e de coragem. Que importa a razão? Só quero que me escutes!


Jogos e jogos de palavras tantas vezes disparadas reactivamente, perante a futilidade e falta de imaginação de quem merece melhor. Somos tantas vezes fracos no embalo do amor, tantas vezes confundimos o verdadeiro sentimento, com o sentimento de posse, ou o desejo de dar o melhor, sem olhar ao que o outro precisa de receber. Assim gravitamos como baratas tontas, quando por vezes bastava um gesto!
Um sorriso aberto, um abraço sentido!
Enfim palavras...

Maria Sá Carneiro

domingo, 9 de maio de 2010

Colo!



Olho para ti ainda dorida pelas horas lentas que demoraste a chegar…Os meus olhos turvam-se, não sei se de alegria, de emoção, ou de medo do futuro.
Em mim e dentro de mim, partilhamos meses de vida, em que fui feliz por te ter só para mim. Longas conversas de esperança, de tudo o que te queria dar, do melhor em há em mim, para receber de ti um sorriso doce de amor. Amor esse para sempre e de sempre!
Sonhei ser para ti tudo aquilo que lamento não ter recebido, aquele regaço de peito de Mãe cheio, aquele abraço de mel, carregado de esperança de porto seguro, onde poderias atracar, sempre que a brisa te tocasse a alma e te turvasse o coração.
Esperamos sempre dar aquilo que julgamos que nos faltou, aquilo que nos preenche e nos torna confiantes para a vida e o amor.
Assim nos fomos conhecendo face a face, ao mesmo tempo que de maneira oposta fomos interiorizando que a escolha de quem te devia carregar também nos braços, não teria sido a mais feliz.
Anos passados dou-me conta de ainda não alcanço no que falhei, mas a única certeza que possuo é que continuo a carregar em mim o bebé que nunca consegui sossegar. Tentei contigo, tira-lo de mim ao fazer feliz. Fazer de ti um ser humano capaz e forte, para o meu bebé crescer nessa esperança de futuro melhor.

Sigo sonhando sem capacidade ou força de secar essas lágrimas nocturnas sempre que penso no colo de mel, que me vai escapando, sem razão aparente. Não entendes, sei que não! Mas colo não se troca por pequenos atractivos materiais ou pseudo publicitários. Colo é algo que seca as lágrimas, sossega a alma, consola o coração, é um sopro de vida, uma brisa com um sorriso.
Sei que falo e que não me escutas, mas espero que pelo menos tenhas conseguido embalar o teu bebé!
Sigo conversando de mim para mim.
Maria Sá Carneiro

quarta-feira, 28 de abril de 2010

terça-feira, 27 de abril de 2010

Lua!

Não consigo adormecer, da minha janela vejo a lua, linda, branca e pura como esse amor que sempre sonhei encontrar desde menina. Recordo a cor do teu abraço forte, vejo o brilho dos teus olhos, o teu beijo doce, enquanto me encosto no teu colo seguro. Queria saber escrever aqui e agora a esperança que me dás quando me envolves nos teus braços. Queria nesse momento matar em mim todos esses fantasmas do meu passado/presente, essa luz escura que se apossa de mim, quando menos espero. Essa sensação de pânico de me voltar a perder no labirinto escuro, que me puxa e repuxa, roubando-me a minha vontade própria. Nesses dias em que me forço a sair da cama, arrastando-me para a vida, como um saco guiado pela dor, incapaz de ver o sol, o arco-íris e a magia que a vida pode ter. Sei que não é fácil de apreender o que tento explicar… Mas é a maior verdade que transporto em mim.

Acordo com o sol forte e quente a bater na minha janela, é bom acordar em nós. Suspiro porque sei que te vou abraçar. O rio espera-nos nesse passeio de sonho, nessa viagem programada desde o momento em os nossos olhos se encontraram. Sinto-me uma criança de tão excitada que estou em nós. Finalmente vamos alcançar rio acima os nossos momentos de refúgio, de ternura. Dobro a toalha de xadrez que sei que te vai encantar, as tuas cores preferidas! Vamos ter essa conversa há tempo demais adiada! Sinto esta viagem como um encontro marcado desde sempre e para sempre.

Nesse balanço ainda trémulo de equilíbrio precário, sou como uma criança a dar os primeiros passos, um de cada vez, pequenos passos, a tentativa de uma viragem de vez, da corda bamba em que sempre me fui desequilibrando. Tanta gente teme essa franqueza e coragem de balançar ao som de uma brisa por vezes quente, por vezes gelada. Não temo rótulo algum, apenas procuro a minha verdade, sem presunção nenhuma, sem vontade de chorar, apenas de aprender a lidar comigo e a acreditar.
Assim sigo contigo, a construir uma verdade que não seja de sangue e dor!
Maria

sábado, 24 de abril de 2010

Sempre!

Procurei em toda a cidade mas não encontro a tua fábrica dos sonhos. Vou jurar que fui direita à rua que me falaste. Sei que não me enganei, tal e qual como me descreste. Uma rua estreita de bela, povoada de carvalhos lindos e robustos como tu. As casas alinhadas na perfeição como a tua habitual exigência. Pintadas de cores discretas como tu, muros de granito, gente com aparência tranquila, sem pressa, mas determinada. A rua só podia ser aquela, o sol devagar devagarinho ia se deitando no horizonte, pintalgando o céu de laranja/azul/celeste/mel!

Ao fundo nascia a lua esplendorosa e pujante, era o cenário perfeito que tantas escutei no teu silêncio brilhante, na tua expressão serena e expressiva do teu olhar. Sentei-me naquele banco do jardim que sei que era teu de direito, fui olhando calmamente de casa em casa, tentando vislumbrar o tão desejado sonho. Conseguia ouvir o teu murmúrio doce, aquele apelo que guardo na minha alma até hoje, que iria ser feliz. Os pássaros chilreavam embalando-me assim de suspiro em sorriso, ao recordar-te.

Percorri a rua de lés a lés, na esperança de te encontrar, escutei as nossas conversas de sempre e para sempre. Lembrava-me de cada detalhe da tua descrição. Estavam lá todos os pormenores do nosso passado, arco-íris de abraços fechados, maresia de conversas francas que muito me ensinaram, a ser assim simples e disponível para amar.

No fundo sabia que o sonho estava era mesmo dentro de mim, vivo em nós, nesses momentos que fizeram de mim, uma pessoa melhor.

Vou guardar-te para sempre, e continuarei a visitar a tua fábrica dos sonhos!
Maria Sá Carneiro

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Dor!

É um vazio imenso, um nó que me bloqueia a garganta, castrando até a minha vontade de tossicar. Qualquer gesto que procure para aliviar esta dor profunda, não o encontro! Não me restam forças para nada!

Luto contra essa apatia a que o meu corpo se entregou, tento não me vergar a ele. Está cansado, estafado, esvaziado de qualquer sentido, desde que me abandonaste. Desde esse dia que me perdi da vida, do canto dos pássaros, do cheiro da maresia e da luminosidade da lua.

Sinto-me dividida na pessoa que te ama e no bebé que tantas vezes adormeceu no teu colo, fiquei presa no teu beijo doce, no teu cheiro intenso e no teu abraço fechado. Estou no mesmo sítio em que me largaste. Aí defino de ti em mim. Tenho saudades de me entregar a ti, de te sentir entrar em mim, desse momento mágico da união dos nossos corpos/almas/corações.

Como fui feliz nesse nosso sonho contigo. Aqui continuo amarrada a nós, atracada no mesmo sítio, entre a morte que me vai chamando, e vida que se arrasta cada vez mais entediante e dolorosa.

Não fui capaz de te fazer feliz, tomei-te como parte do melhor de mim, entrelacei-me em nós, entreguei-te a menina perdida de toda a minha infância, na esperança de uma vida melhor.

Assim decido partir de vez desse sacrifício maior do que as minhas forças, procuro na escuridão do desespero a coragem de me lançar nesse abismo libertador, na última viagem para adormecer na paz, sonhando que estou na nossa cabana de sempre, esperando o copo de leite morno, de quem verdadeiramente cuidou de mim.

Cobardia? Não creio! Apenas coragem de ser livre para escolher não sobreviver ao melhor que jamais senti!
M

quarta-feira, 21 de abril de 2010

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Cabana!

Anunciaste-me durante todo o dia que me aguardavas com uma surpresa. Reconheço que foi mesmo uma grande surpresa. Indaguei-me ao longo do dia no que seria. Nessas pequenas ilhas temporais em que consigo recolher-me em nós, no meio da azáfama do dia de trabalho.

Mal abri a porta do nosso refúgio deparei-me como uma decoração vanguardista. Tinhas construído dentro da sala, uma cabana. Como consegues no meio de tantas contas e números, fugir assim para nós?

No meio do meu estado de estupefacção, vislumbrei o teu sorriso aberto e franco, o brilho dos teus olhos esverdeados de mel! Como queria ter essa tua força para fugir para dentro de nós, em vez de fugir em frente. Mergulhar no melhor de nós, em vez de me arreliar tanto com as contrariedades.

Ainda me sorrio e me perco nessa surpresa de amor que só podia partir de ti. Como me sinto mais leve, mais amada e mais completa. Que noite de amor e de cumplicidade!

Queria ter essa disponibilidade constante, nessa inconstância que só em ti conheço. Nunca encontro em ti mais do mesmo, mas sempre mais e melhor. Esse balanço desequilibrado que me envolve e me faz querer-te sempre mais e mais. Contigo aprendi a voar, mesmo que sentada no nosso jardim de sempre, a planar em cima do mar num pequeno passeio de carro, já noite adiantada, para ver a lua esplendorosa em cima do mar a meio da noite mesmo assim de pijama e tudo!

Ainda oiço o teu murmúrio doce na história que inventastes para me embalar, como vibra a tua voz de emoção, nesses pequenos contos, misturas de colo e dor, recordações de infância dorida mas vivida, repleta de amores e paixões de quem viveu desde o amor ao ódio.

Assim me prendeste nesse balanço doce sempre pintalgado pela tua saudável loucura de nunca te renderes a essa rotina que nos vai tornando indiferentes ao melhor de nós!

Sigo sempre nessa viagem de nós contigo!
M