terça-feira, 11 de maio de 2010

Um dia!

Procuro algum equilíbrio nessa solidão que se abate em mim, não por mim mas por aqueles que tenho de cuidar. Curiosa a vida dos dias de hoje, em que és mesmo “alguém” quando demonstras ter, mesmo que só tenhas objectos, e sejas vazio de conteúdo humano. És procurado para eventos, esse termo moderno, que nada significa, mas que leva as gentes ao rubro. O tempo esgota-se por entre os teus dedos, sem que nada possas fazer para o travar. Sentes-te assim demodé mediante tanto blusão xpto de couro, não de napa como aquele usado que guardas no roupeiro. Como se tivesses sido uma grande esperança da selecção errada…
O mais curioso é que essa ilha “solidão” é aquela em que melhor te sentes, depois de uma vida inteira em que representaste o papel de bobo da corte. Esse vazio de tanto esforço no sorriso forçado e amarelo, dos dentes queimados pelo fumo, das noites de insónias e amargura, no pesadelo constante da saudade dos que partiram. Rodeado de gente ainda te dói mais a alma partida, pelo tempo e pelos outros, como estivesses obrigado a agradar àqueles que no fundo nunca te encaixaram, quer pela tua coragem de ser como és, quer pela força com que tocaste a vida.
Interessante seria pensarem se és assim porque é essa a tua essência ou por que a vida e as suas adversidades te foram transformando. Tanta gente que olha e não vê, fala e não escuta, tanta cara sofrida passa na rua, e ninguém sequer os avista.
Assim segues correndo em frente, nessa ilha só tua, em que te vais fechado como uma ostra, sempre que alguém ousa espreitar-te. Segues somando dor, engolindo essa lágrima teimosa com a qual tantas vezes te deparas nesses semáforos vermelhos e túneis obscuros por onde circulas. Lentamente vais-te convencendo que as tuas escolhas não foram as melhores, mas que não implicavam tanta solidão, e tão pouca solidariedade.
Mas firme nas tuas convicções e afectos, continuas fiel ao melhor de ti, essa criança preterida perante tantos e tanta coisa, segue contigo, num abraço fechado na procura da paz e da luz.
Um dia….
Maria Sá Carneiro

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