terça-feira, 23 de novembro de 2010

Não desistas!

Adormeceste assim devagar, devagarinho no meu colo. Pareces um bebé assim desprotegido. Tens um ar sereno e tranquilo. Ninguém diz o que é a tua vida. Lutas incessantes contra quase tudo, quando apenas lutas para te manter à tona e não te afogares. Cansado e dividido entre todas essas personagens que transportas dentro de ti, una vilãos e outros heróis. Encarnas nessas personagens no meio da confusão mental que te obrigas a viver para não sentir a dor. Dores de criança de desamores e rejeições que nunca alcançaste ultrapassar. Nunca te deste a oportunidade de parar para pensares, foste-te lançando assim às “feras” num ciclo infernal e vicioso. Ainda tocaste neste e naquele vício, mas nenhum foi tão brutal como o de te magoares a ti próprio. Nada se compara a essa necessidade de escolheres tudo aquilo que te é mais doloroso, mais complexo e mais atribulado. Julgam-te fácil assim como vives nessa velocidade alucinante, julgam-te arrogante e seguro. Se te vissem agora, aninhado no meu colo!

Do nada agitas-te, inquieto e nervoso. Tento dar-te um beijo que te acalme, uma mão que te sossegue. Abres os olhos assustado! Tentas aperceber-te se estás nalguma guerra que à última hora embarcaste sem te dar conta. Esse teu ar desprotegido gela-me a alma e desperta os meus piores receios.
Há tanto tempo que temo que não sejas capaz de não te magoares a ponto de partires. Tantas vezes vejo nos teus olhos pretos esse desespero que sei que um dia não irás conte-lo. Temo que te abandones de vez.

Sussurro-te a lembrança desse jardim mágico onde te abracei pela primeira vez. Lembro-te as gargalhadas os sorrisos de cumplicidade. Transporto-te para o melhor de ti. Esse rapazola que tantas travessuras fazia, com esse ar sério e inocente, que ainda tens quando te chamo a atenção para a tua falta de cuidado contigo próprio.

Finalmente voltas a adormecer em aparente tranquilidade, como eu gostaria de ser capaz de sarar essas feridas em ti!

Não desistas!

Maria Sá Carneiro

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