segunda-feira, 13 de setembro de 2010

"Beijo"

O tempo corre lento e pastoso sem ti, arrasto-me na necessidade de te voltar a ter. Suspiro por esse abraço quente, que me faz pesar a vida que desperdicei por não querer acreditar que seria capaz de voltar a ser de alguém, na verdadeira acepção da palavra. Amar assim simplesmente, sem ter que dar explicações científicas, justificar o ridículo, contigo voltei a sentir o sabor da palavra confiança, respeito, amizade e cumplicidade.
Tenho saudades desse nosso tempo quente e fraterno, onde há lugar para tropeções na fala meia estrangeirada, onde me perco nesse teu colo/porto seguro, deixando-me embalar, na criança que sempre houve em mim, que finalmente encontrou o seu jardim mágico!

Fecho os olhos que me pesam da hora tardia, apenas sinto o calor ténue do sol que esplendoroso começa a dar um ar da sua graça, iluminando os nossos corpos cansados desse abraço fechado. Navego sobre o doce da minha infância, os meus primeiros grandes amores masculinos ainda de formas familiares, volto a sentir essa necessidade que aquele olhar mágico verde, me desafie com um sorriso aberto e franco, nesse jogo/desafio de apenas manter esse olhar forte. Tarefa gigantesca para a miúda sempre necessitada de um abraço, um sorriso, um mimo. Curioso como carregamos até tão tarde, esse amores fortes/desamores, que apenas resolvemos com um amor puro e fraterno. Passa aquela ânsia corporal de amor carnal com o passar dos anos dando lugar a esse amor completo que nos une nesse abraço fechado, que toda a vida sempre sonhei, idealizei, e ansiei!

Ao longe apesar de os meus olhos cerrados por um cansaço feliz, ainda sinto as gargalhadas dos Primos, os desafios do Tio, os ralhetes da Tia! Essa família que tanto contribuiu para eu saborear parte da infância possível, que hoje finalmente abraço em recordações sorridentes. Contigo aprendi o caminho e a confiança para me permitir ser apenas Maria, e não um ser que se arrasta de desejo em desejo, em paradas de figurantes desarticulados com o brilho da minha alma. De mão entrelaçada entrego-me a ser apenas gente na sombra dessa crítica velada, aos quais habituei a pautar a minha existência entre actos ridículas de esforços sobre-humanos/figuras insanas, que lentamente me pincelavam a alma de cinza escuro, roubando-me força entre aplausos falsos/sorrisos desmaiados, de quem me usava ao sabor daquilo que infelizmente imprudentemente me ofereci, ou melhor, me fui pondo a jeito.

Assim adormeço nesse teu/nosso sorriso tranquilo.
"Mico"
Maria Sá Carneiro

Sem comentários:

Enviar um comentário