sábado, 16 de outubro de 2010

Fio da navalha!

Um estado entre cá e lá. Um impasse. Uma paragem repentina. Um momento em que nos falhamos. Uma travessia atribulada num cruzamento em hora de ponta! Paramos, escutamos e nada ouvimos, para além do zumbido da nossa solidão!

Estás na minha frente, estático! Olhos grandes, pretos, lindos/parados. Mergulhado no teu silêncio interior, olhas-me para além de mim. Tenho sérias dúvidas se me estás a conseguir ver. Olho para esses pontos pretos como suplicando que passes no meu verde, como um apelo fraterno para que vivas. Num pequeno instante de esperança esforço-me para que te foques em mim, tentando assim retirar-te dessa paragem, dessa falência espiritual/humana, fria/dolorosa, distante e sem fim aparente que te coloca assim…Sem nada! Como entendo e alcanço a tua hesitação sincera em não continuar. Não é habitual em ti, não está no teu código, daquilo que sou capaz de equacionar. Em ti acostumei-me a ver um lutador de maratonas de fundo, incansável. Ou seria o meu desejo?


Empurras o teu velho carro de supermercado outrora famoso mas falido. Agarrada a ele impões esse teu ar sempre distinto. Cabelos brancos/imaculados pelos anos, cabelo milimetricamente apanhado e gorduroso. Não sei o que me choca mais, se o teu ar distinto, o teu cabelo gorduroso, ou a tua coragem de a tudo/todos teres virado as costas, para viveres nesse mundo apenas teu. Ou será que a tua tranquilidade, a tua paz, me fazem questionar-me de mim ainda com mais insistência? Ou o meu desejo de me juntar a ti, nesse vida sem nada, mas com tudo aquilo que não consigo encontrar na minha gaiola já gasta da tinta dourada que afinal nem esmalte era?

"Afinal quem sou eu? "


Maria Sá Carneiro

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