terça-feira, 6 de julho de 2010

Chega!

Hoje

Perdida nesse mundo de betão, rua após rua, vagueias assim como desgarrada de ti. Peso a mais, barriga grande, peito descaído, uma sombra do que já foste! Olhas perdidamente para baixo, falta-te fôlego para mirar o futuro. Já nem sequer te questionas qual foi o primeiro cruzamento que viraste na direcção errada. Será que já não te recordas?
Terá sido aquele mostro que te desvirtuou noite após noite, com a promessa de um casamento eterno, casamento esse que já tinha com outra. Aquele sedutor de meia tigela que à época te parecia tão encantador e charmoso. Fizeste ouvidos moucos daqueles conselhos sábios de teus Pais.
Nem sequer sabes se o que te doeu mais foi as mentiras, ou aquele aborto que ele te obrigou a fazer, como ele te manipulou…
Acho que é essa dor que ainda te vai matando aos poucos, um bocadinho todos os dias do resto da tua vida.
Assim te arrastas de casa para o trabalho, pesadamente/penosamente. Essa solidão que te vai comendo, já não tens corpo que atraía nenhum moscardo, dinheiro também não, amigos esses foram-se na inocência da tua verdade!


Ontem

Acordei feliz! Finalmente tinha chegado o dia tão esperado que iria mudar a minha vida. Confiante e bonita, cuidada/aperaltada, só para ti. Três horas ao anoitecer para escolher a roupa mais apropriada para o grande dia!
Como estava feliz por me ir entregar a ti, nesse fim-de-semana tão cuidadosamente preparado. Sítio lindo escolhido por ti com tanto amor e carinho, para finalmente nos amarmos, sem barreiras, sem horas.


Amanhã

Tomei finalmente a decisão que adio há anos demais! Chega de sofrer, já não me aguento mais nesse ser vegetativo em que me tornei. Já não caibo em nenhum espelho, deixei de poder olhar-me nos olhos. Deixei de ser gente…
Assim parto sem sequer conseguir que te sintas culpado de todo o mal que nos fizeste! A mim e ao meu bebé!
Essa criança que eu poderia tomar nos meus braços, e o resto de menina que eu tinha em mim.
Chega!
Maria Sá Carneiro

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