sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Sem nexo!

Procuro apenas um golpe de génio que me ilumine e me traga de volta à vida. Rastejo entre os buracos de mim. Não sobra nada, nem luz, nem força, nem coragem. Encurralada entre o belo prazer daqueles que sempre me invejaram, rastejo assim, esperando que voltes, me regastes desta agonia lenta. Tenho medo da noite, receio o dia, pois já nem posição tenho. Perdi a postura, a coragem de andar sem ver se vem alguém atrás de mim. Receio não ser capaz de seguir em frente.

Queria acreditar que tudo se compõe, que tudo se resolve. Vivo apavorada e fustigada de sorriso amarelo, com medo que os dentes me caiam. Não envergo direito, os meus óculos estão riscados. E não sei de ti. Como estás? Onde estás? E porque partiste?

Houve um tempo em que eu ainda era capaz de sonhar, sonhar com vida, com sol e alegria. Mal pousava a minha cabeça desregulada no teu travesseiro de sempre, embarcava nessa viagem onde o amor reinava.

ERA eu assim uma menina de caracóis loiros, sorriso aberto e esperança de todos os dias chegar a hora do teu colo. Essas figuras basilares de infância entre as quais eu balançava ao sabor de uma aragem doce, entre o teu ar de durão, e aqueles olhos verdes, fulminantes de fúria de viver.

Lentamente até as recordações menos boas se vão dissipando, com o peso dos anos, e esse desespero de hoje. Essa mancha amarela que se me grudou, para não mais sair, essa sim está a levar-me e a transportar-me de vez, para esse beco húmido e frio. Onde essa sombra mescla de inveja e maldade clama por mim, Irónica vai sorrindo e acenando, empurrando-me para o abismo.

Já não busco esperança, já não quero melhorias, só peço que tudo se silencie, para que eu possa adormecer, nessa paz que entendo merecer. Não sei se a mereço por te amar tanto, se pelo bem que tentei fazer, ou apenas por ser incapaz de tolerar mais dor.

ERA eu assim menina, abraçada e entrelaçada em ti, nessas manhas solarengas, eu sentia-me a pessoa mais importante do mundo, a caminho do colégio, na tua mota, descíamos a avenida com o mar no fundo, como eu me agarrava a ti.

Essa sensação de segurança, esse colo meigo. Não cresci? Se calhar parte de mim, ficou amarrada a esse passado longínquo, que por vezes até parece um conto de fadas.

Sim sei que não foi um conto de fadas, mas crescemos por comparação! Eu cresci procurando o inverso de ti, por não sentir que me amavas na mesma medida.

Disparates, linhas desconexas, em tempos onde a verdade nos foge entre os dedos, em que nada é palavra dada e sentida.

Era eu uma menina de olhos verdes que se iluminavam à tua passagem!


Está mal redigido? Estou-me nas tintas, finalmente!


Maria Sá Carneiro

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