quinta-feira, 5 de maio de 2011

Nada!

Aqui no meio do nada vezes nada, tento entender a gigantesca e brutal carência que se me cola, a que tantos chamam solidão. Anos e anos que procuro em mim, explicar-me que quer dizer essa dita cuja solidão. Pensamentos de horas corridas e enrodilhadas em direcção pouco assertiva e errónea. Solidão é apenas um chavão pesado e penoso! Talvez o que realmente me dói é essa falta de mimo e de sentir protecção. Um colo no qual eu possa mergulhar e sentir esse cheiro, mescla de perfume machão e de pele curtida pela vida.
Um abraço, um regaço, um porto seguro, ou apenas um gesto de compreensão, uma luz, uma ideia, uma festa, uma esperança!
Uma saída que já nem precisa de ser airosa, mas uma luz. Vivemos nessa corrida batoteira à procura de holofotes, quando apenas nos basta uma vela quente e firme.
Esse desespero acumulado que me leva a escrever linhas sem sentido, em versos de folhetos desta sociedade de promoção em promoção na verdadeira despromoção do ser humano.
Essas vozes que te apelidam de nomes de família outrora famosos, essa gente que te julga, quando já nem sequer podes pôr um cego a cantar.
Essa multidão desumana que só clama com o que lucra, e pior que tudo isso, esse passado que não te larga, essas armadilhas, cordeiros verdadeiramente disfarçados, quando apenas são lobos, sanguessugas que te querem ver lá no fundo.
Apenas porque és genuinamente tu!
Seja isso bom ou mau, para ti é verdade.
Atordoada pelo teu próprio desespero, vais assim cavando o teu buraco onde jamais a terra te cobrirá, pois em cinzas queres te tornar.
Em nada vezes nada, mas não mais nessa agonia de olhar e nada ver. Estender a mão e em nada tocar. Chorar lágrimas grossas que caiem em saco roto!
É como se fosses outra vez e repetidamente, vezes sem conta, essa criança naquela noite tenebrosa de trovoada, apenas abafada pela discussão do quarto ao lado.
Assim te vais entregando um bocadinho mais todos os dias à espera do dia que nunca chegará.
Frases que foram ficando gravadas e tatuadas em ti para sempre. Frases que levas tempos infinitos a digerir, sem que nunca as conseguir sequer processar. Essa maldade que não consegues aprender, vai assim acabando contigo.
Continuas a ter essa esperança de criançola, que essas pessoas vão estar aí para ti, como tu estarás sempre para elas, esquecendo essas maldades que te foram lançando como se de mau-olhado se tratasse.
Essa generosidade de estar sempre à mão de semear, criou-te esse fosso ente ti e tu. Baralhaste fronteiras e territórios, assim as tuas cinzas ficarão na terra de ninguém.
Porque foi nisso que te fostes tornando, em ninguém, em nada vezes nada!

Maria Sá Carneiro

2 comentários:

  1. Não a conhecia aqui, nestas lides de escrever coisas. Li esta última e gostei.
    Apenas «um abraço, um regaço, um porto seguro, ou apenas um gesto de compreensão, uma luz, uma ideia, uma festa, uma esperança!» é o suficiente para emergirmos do profundo mar que se chama solidão.
    Bom.
    Vamos jogar cityville?
    Fique bem.

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